Cama e rede; Por Angela Barros Leal

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A crônica da Angela

O rangido do gancho da rede, embutido na parede, remete a um tempo imemorial. O sono se rende à redeestendida: repara no sonho chegando, vem no balanço da varanda de renda, exibida. A rede reparte o dia: cansaço, repasto, repouso. A curva da rede dá forma à preguiçaprimordial: de fato, é delícia que filtra e depura o puro gozo. O uso da rede é ofício e oferenda, é vocação e gosto. Cama é, em tudo, o oposto.

A rede voa, a cama rasteja. A rede é viva; a cama a inveja. A rede range, a cama é calada. A rede balança, a cama é parada. Rede é varanda. Cama é claustro. A rede é do povo. A cama é fausto.

A rede acolhe, a cama suporta. A rede envolve, a cama respeita. Rede se abre, cama se deixa. Rede suspira, cama se queixa. A rede inspira. A cama deforma. A cama se arruma, a rede se embola. Rede tem contornos, tem curvas. Cama é inteira enquadrada. Cama tem canto: rede é colo.

Rede desenha um sorriso, cama é boca fechada. Rede é viagem, cama é estação. Rede é cultura, cama é civilização. Rede é raiz; cama, estrutura. Rede é rio, riacho; cama é represa, comporta. Rede se dobra, cama se quebra. Cama comanda, rede se entrega. Cama se preocupa. A rede – nem se importa.

Rede passeia. Cama não passa da porta. Rede é chinelo,cama é calçado. Rede gargalha, cama gagueja. Cama é segunda feira, dia útil, apressado. Rede é dia santo, fim de semana, feriado.

A cama é séria, a rede é assim… meio aérea. Cama é estática, rede é mais para performática. Cama tem lados e quinas. Rede é de outra matéria. Cama ostenta travesseiro, colcha e lençol. Rede toma banho e se deixa secar ao sol.

Cama tem pernas. Rede tem asas. Cama é imóvel, rede vive fora de casa. Cama aquece, transpira. Rede respira. Cama demanda colchão. Rede não tem precisão. Cama impera, rede reparte. Cama segue as regras, rede é pura arte.

Cama é um navio de cruzeiro, rede é um barco pirata. A cama é buquê de rosas. A rede, um maço de flores do mato. Na cama, quem faz a fama se deita. A rede manda um abraço, sem desfeita.

Cama é cuidado: nela se sente o pulso, o coração. Na rede, o que pesa é o punho e a distância segura do chão. Rede se alonga. Cama comprime. Rede respira, cama restringe. Cama é a letra: rede, a canção.

Cama se acompanha de mesas de cabeceira. Rede é solteira. Cama tem endereço certo. Rede é sem eira nem beira. Cama tem outros nomes: de campanha, de vento, catre, leito. Rede se basta: é em tudo perfeita.

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