Tomo conhecimento agora, pelo jornal O Povo (CE), que o Governo do Estado do Ceará vai transformar o mausoléu de Humberto de Alencar Castello Branco em um “Museu da Liberdade”. Trata-se, ao meu ver, de um apagamento simbólico da memória do primeiro presidente do regime militar, mas também de um brasileiro que ajudou a construir a Força Expedicionária Brasileira e combateu in loco nos campos da Itália durante a Segunda Guerra Mundial.
Castello Branco tem sido demonizado como um conspirador, como se ele fosse o único responsável por um movimento que, à época, teve amplo apoio da sociedade civil, da imprensa e até mesmo de lideranças políticas — incluindo Juscelino Kubitschek.
Esse revisionismo seletivo reforça a perigosa dicotomia do “nós contra eles”, reeditada no Brasil contemporâneo com força crescente desde a ascensão do presidente Lula. Essa leitura binária, incapaz de reconhecer nuances, empurrou o país para polos extremos e colaborou para o soerguimento da nova direita.
Castello assumiu o poder em 1964 com a promessa de convocar eleições gerais em 1965. Não o fez, e por isso é alvo de críticas. No entanto, também foi afastado do núcleo duro do regime, e sucedido por uma linha muito mais autoritária, sob Costa e Silva. Sua morte trágica em 18 de julho de 1967, num acidente aéreo ainda cercado de mistérios, jamais foi investigada com seriedade. O avião que caiu em Fortaleza, matando o ex-presidente, permanece como uma cicatriz mal explicada na nossa história. Por que o monomotor foi abatido? Quem se beneficiou com sua ausência?
O AI-5, que mergulhou o Brasil em sua noite mais sombria, viria apenas um ano depois, pelas mãos daqueles que Castello já não representava. Ele era, para muitos, um conservador moderado diante da linha dura que o sucedeu.
Tentar apagar a memória de Castello Branco é não compreender que a história é feita de múltiplas versões, de contradições e de personagens complexos. É ignorância histórica — ou má-fé política — reduzir a figura de Castello a um rótulo fácil.
Trata-se de uma atitude reacionária, sim, mas travestida de progressismo. Um gesto pequeno de quem não sabe — ou não quer saber — que a história, mesmo quando controversa, precisa ser preservada em sua totalidade.
A esses, pergunto: por que o avião de Castello caiu?
