Ceará 2022: Contra Lula é mais difícil. Por Ricardo Alcântara

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Ricardo Alcântara é publicitário e escritor.

Os Ferreira Gomes não estão no poder há 37 anos por oportunismo, apenas. Para tanto, é preciso ter sensibilidade política e entregar resultados. Afinal, “ninguém consegue enganar todo mundo o tempo todo”. Com pragmatismo de comprovada competência já escaparam de alguns naufrágios por saberem se antecipar aos humores do clima. Logo, pensarão dez vezes antes de dar aos aliados PT e MDB a oportunidade de tomarem rumo próprio na sucessão estadual, fracionando a aliança que sustenta seu governo hoje.

Mas é o que certamente acontecerá, se insistirem com a candidatura do ex-prefeito Roberto Cláudio ao governo, uma alternativa que, por razões outras, não é admitida pelos partidos da aliança que, no plano federal, apoiam a candidatura de Lula da Silva, como se sabe. E o candidato de uma aliança lulista (PT/MDB) entraria na disputa para governador com boas chances de vitória. O principal fator: a capacidade de transferência de votos de Lula e Camilo Santana seria bastante para torná-lo competitivo.

Claro, o nome indicado precisaria portar determinados atributos. Por ordem de relevância, arriscaria enumerá-los assim — ter:

1. Um enredo precedente de alinhamento com Lula.

2. Índices de rejeição pelo menos não acima dos níveis médios.

3. Experiência administrativa — Pública, sobretudo.

4. Bom nível de conhecimento pela população.

5. Confiança entre os agentes de mercado.

Seriam atributos suficientes para competir com boas chances de alcançar o “salve-se quem puder” de um segundo turno.

Com base em pesquisas semelhantes à que orienta nossas observações, os caciques do PDT sabem que, em sentido inverso, a paisagem de sua hegemonia no Ceará já se tinge com as cores saturadas do ocaso: há sintomas de fadiga de material, esgotamento da capacidade de seduzir. Há uma margem maior de rejeição, inevitável a quem se expôs por tanto tempo no exercício do poder. Exemplo recente, o control+alt+del que deram nos Ferreira Gomes para eleger o atual prefeito de Fortaleza, José Sarto. Sumiram!

Mesmo Ciro, candidato a presidente, não tem conseguido superar em seu próprio estado o patamar mínimo de viabilidade, historicamente verificado em torno de 20% de votos. Corre o risco de ser superado em sua terra por um presidente de desempenho pândego. Embora esse quadro constrangedor tenda a ser pelo menos atenuado no curso da disputa, são sinalizações que não recomendam o abandono da cautela.

Lançado pelo PDT mesmo sem o apoio do Lulismo, é plausível que Roberto Cláudio ocupe a pole position na largada da disputa — as convenções partidárias no início de agosto. Contudo, já deverá fazê-lo próximo de seu potencial máximo de votos porque, a partir daí, enfrentará um tsunami: a intensidade na polarização da campanha presidencial transbordará para o quadro estadual, como tem sido projeção frequente de quem analisa com objetividade a conjuntura política e conhece o labirinto das pesquisas de opinião.

Não seria nada inédito e os personagens envolvidos na tomada de decisão lembram: em 2006, Lúcio Alcântara enfrentou conjuntura semelhante, quando, mesmo com um governo de notável aprovação (76%, semelhante ao legado de Camilo Santana) foi, ao fim, derrotado com folgada diferença por quem era apenas prefeito de uma cidade do interior… mas contava com o apoio de quem? Do mesmo Lula. Seu nome, todos lembram: Cid Ferreira Gomes.

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