
A volta que ninguém esperava:
Ciro Gomes, após quatro derrotas em eleições presidenciais e 35 anos afastado das urnas no Ceará, avalia voltar ao cargo que marcou sua trajetória política: o governo do Estado. Foi em 1990 que ele derrotou Paulo Lustosa e tornou-se o segundo mais jovem governador do Brasil, pelo PSDB. Agora, o veterano articula sua volta, não mais pelo campo da esquerda tradicional, mas com uma inusitada aliança com a direita local e até nacional (potencial vice).
O arco de alianças improváveis:
Ciro, que construiu parte de sua biografia em combate aberto a figuras como Capitão Wagner, flerta agora com a ideia de uma composição pragmática — no Ceará e no Brasil. A possibilidade de ser vice de uma candidatura presidencial de centro-direita, como a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, está no radar. Seria a guinada de um político calejado, disposto a ocupar um papel de equilíbrio entre forças que se evitaram por décadas.
O fator legado — e o peso da coerência:
Ciro não é apenas um nome conhecido: ele carrega o peso de ter sido o primeiro governador eleito pelo PSDB no Ceará, um marco de modernização administrativa que pavimentou a ascensão dos irmãos Ferreira Gomes. Sua gestão é lembrada por avanços em áreas como infraestrutura e controle fiscal, mas também pelo estilo personalista e pelas alianças pontuais — o que levanta uma pergunta: que Ciro volta? O reformista pragmático de 1990 ou o crítico ácido que mirou fogo cerrado contra a direita nas últimas campanhas? A resposta define o impacto de sua possível volta à disputa eleitoral no Ceará.
O que está em jogo:
• No Ceará: A volta de Ciro bagunçaria o jogo de forças entre a esquerda e a direita.
• Na política nacional: Ciro como vice de Tarcísio? A composição pode ampliar o alcance eleitoral da direita no Nordeste e mudar o equilíbrio do jogo em 2026.
• Na memória política: O nome Ciro ainda tem força, mas o Ceará de 2026 não é o mesmo de 1990. O desafio é atualizar o discurso sem parecer uma volta ao passado.
Vá mais fundo:
O xadrez está armado. Ciro é uma peça rara: move-se entre espectros, provoca reações, redesenha alianças. A dúvida: o jogo aceita uma volta tão ousada — ou o tabuleiro já mudou demais para um movimento desses dar certo?