O martelo de Ciro
Fontes bem credenciadas relatam ao Focus que, na cabeça de Ciro Gomes, a escolha do ex-prefeito Roberto Cláudio para ser o candidato a governador do PDT é fato consumado. Oficialmente, ninguém confirma.
Porém, o anúncio feito por Ciro, que não comanda nenhuma instância formal do PDT, de que reuniria os pré-candidatos para determinar o formato da escolha indica o poder autocrático exercido pelo presidenciável. A definição da escolha do candidato a prefeito de Fortaleza em 2020 já servia de referência para a linha.
Pela boca de outro
Julga-se que, internamente, parte da cúpula do PDT até já vislumbra a possibilidade do fim da aliança com o PT. Nesse ponto, Ciro não escondeu o seu pensamento ao, sem pestanejar, desejar um “que seja feliz” diante da ameaça petista de romper a aliança caso a escolha seja RC.
Considera-se ainda que as seguidas atitudes de Carlos Lupe em apoio a Roberto Cláudio é outro claro indicativo da opção feita por Ciro. “Ciro falou pela boca de Lupe”, diz outra fonte.
O presidente nacional do PDT, além de uma entrevista ao O Globo na qual declarou a opção por RC, veio a Fortaleza e foi à Câmara Municipal, um reduto Sarto/RC, e não à Assembleia, reduto Izolda/Evandro Leitão, para reforçar sua posição. Numa eleição estadual, evidentemente que a Assembleia é bem mais representativa.
Na sequência, Lupe usou um evento pedetista pró-Ciro para citar um velho jingle que ele entoava no Rio e Janeiro, em 1998, cujo refrão dizia “o melhor prefeito do Brasil vai virar governador”.
Esse “melhor prefeito do Brasil” era Anthony Garotinho, que deixara a Prefeitura de Campos (RJ) para se candidatar ao Governo, então apoiado pelo brizolismo. É óbvia a referência a Roberto Cláudio.
Claro que o lupismo causou animosidades. Estavam na mesa, os outros pré-candidatos do PDT.
Rifando Camilo?
Bom, nas conversas com interlocutores bem credenciados, escutam-se muitas avaliações, mas nada de definitivo. Uma dessas teses, como já sugerido acima, diz que Ciro Gomes não liga para o rompimento com o PT. Tanto que estaria disposto a, sem o PT na aliança, lançar candidato ao Senado do PDT, construindo a chapa inteira. O que seria uma dura provocação a Camilo Santana.
Impasse tenso
Todas as vozes ouvidas apontam que o encontro de sábado, na Casa Oficial, moradia da governadora, foi tenso e não apontou nenhuma saída que agradasse a todos. Tanto que não foram feitas imagens e nem sequer houve o cuidado de soltar uma nota para a imprensa. Algo daquele tipo que não diz nada, mas oferece alguma satisfação: “o encontro foi salutar e está mantido o projeto de buscar a manutenção da aliança”. Nada.
Um movimento que teria mudado o jogo
Antes de deixar o Governo, no início de abril passado, Camilo foi aconselhado a articular um movimento que, se tivesse sido feito, teria mudado o formato do jogo. No caso, trabalhar pela filiação de Izolda Cela, então vice, e/ou Evandro Leitão ao PSB. “Camilo teria ampliado significativamente sua influência sobre o processo caso esse movimento fosse concretizado”, diz uma fonte.
Cid Mergulhado
Cid Gomes, o disciplinado organizador do partido, continua distante do processo. Nada fala em público ou, que se saiba, em privado. Não há registro de nenhum movimento. É um sinal gritante de que não está confortável com os rumos que as coisas tomaram. Se fossem de seu pleno acordo, tenham certeza: Cid estaria à frente das conversas.
A ausência do senador só faz aumentar as especulações acerca de seu rumo. Porém, a pesquisa encomendada pelo PDT nem sequer colocou o nome de Cid como uma opção. O pedetista é de natureza conciliadora.
Sua última fala a respeito da política do Ceará ocorreu há um mês atrás, quando declarou ter sido pego de surpresa com ataques de Ciro ao PT do Ceará. No mesmo dia, o senador declarou o seguinte: “hora de ouvir mais e falar menos”.
O fato é que o senador nem sequer participou do encontro do PDT no qual Lupe agiu de forma inábil. Focus apurou que vários interlocutores tentaram convencer o senador a comparecer ao evento pedetista. As enbaiadas esbarrarm em portões fchados na serra da Meruoca. Cid por lá estava, por lá ficou. Três dias antes havia recebido festivamente Camilo, RC, Izolda e outros muitos convidados na festa de batizado de sua filha.
André desconfortável
Outro fator que passou a chamar a atenção: o presidente estadual do PDT é o deputado federal André Figueiredo. O parlamentar é um pedetista da década de 1980. André parece não estar confortável para exercer um papel de mediador no processo de escolha do partido.
Não é pra menos. Com larga vivência política, o deputado sabe que pode ser atropelado por quem realmente manda na sigla no Ceará. Daí seu papel até aqui muito discreto. André tem uma dura tarefa pela frente: reeleger-se.