Por trás de portas bem fechadas, Ciro Gomes negocia seu retorno ao PSDB, partido que deixou brigado há quase três décadas. O movimento, articulado diretamente por Tasso Jereissati — seu velho fiador político —, mira uma candidatura ao governo do Ceará nas eleições de 2026.
Nos últimos dias, Ciro manteve conversas telefônicas com figuras de peso do tucanato, como Marconi Perillo, presidente nacional da legenda, e Aécio Neves. Obviamente, Tasso Jereissati é o interlocutor mais frequente. A cúpula do partido considera a filiação praticamente fechada, segundo relatos de três dirigentes presentes na reunião em que Perillo antecipou o movimento aos aliados.
Vá mais fundo:
• O cálculo tucano é claro: após sucessivas derrotas e o recuo na tentativa de fusão com o Podemos, ter Ciro como candidato no Ceará é visto como um “ganho estratégico”, capaz de devolver protagonismo a uma sigla em franca decadência nacional.
• A costura inclui a avaliação de que uma federação partidária seria “ruim” para Ciro, justamente por amarrar sua atuação a impasses regionais difíceis de arbitrar — especialmente na política cearense, onde os palanques são historicamente complexos.
• O próprio Ciro, que flertou com a aposentadoria política após o fiasco de 2022 (quando amargou 3% dos votos para presidente), voltou a sinalizar desejo de retomar espaço, especialmente em seu território natal.
• Ainda em maio, em conversa reservada com deputados estaduais do Ceará, admitiu que poderia disputar o governo se uma “situação extrema” assim exigisse — embora, até então, defendesse o nome do ex-prefeito Roberto Cláudio para a missão.
O contexto importa:
Ciro foi eleito governador do Ceará em 1990 pelo PSDB, na mesma dobradinha que, ainda pelo então PMDB, o levou à Prefeitura de Fortaleza dois anos antes, ambos os feitos com aval direto de Tasso Jereissati. Deixou o partido em 1997, rompido, e desde então peregrinou por PPS, PSB, PROS e PDT, este último abandonado recentemente.
Por que agora?
A movimentação de Ciro surge no vácuo deixado pelo desgaste do grupo Ferreira Gomes dentro do PDT cearense — hoje sob comando de André Figueiredo, adversário interno. O PSDB, por sua vez, busca sobrevida após o fracasso eleitoral nacional e a frustração na tentativa de se fundir ao Podemos.
A aposta tucana é que Ciro, mesmo combalido nacionalmente, ainda é uma força eleitoral no Ceará, capaz de desequilibrar o jogo de 2026, que hoje tem como favoritos os nomes apoiados pelo atual governador Elmano de Freitas (PT) e pelo grupo de Eunício Oliveira (MDB).
Cenário possível:
Se concretizada, a volta de Ciro ao PSDB não é apenas simbólica — é também o renascimento de uma aliança histórica entre ele e Tasso, que pode redesenhar a correlação de forças no Ceará e, por tabela, ter repercussões na política nacional.
Nos bastidores:
A cúpula tucana avalia que o anúncio formal da filiação pode ocorrer ao longo dos próximos meses ou mais breve, a depender da costura local e nacional. Se sacramentado, o retorno de Ciro deve se transformar no principal trunfo do PSDB para sair do ostracismo — ao menos no mapa político do Nordeste.