Assistindo ao noticiário televisivo no amanhecer do dia, surpreende-me a pesquisa que aponta 70% de reprovação ao Congresso Nacional. A surpresa, na verdade, está nos 30% que ainda aprovam. Ledo engano pensar que o Brasil está à beira do caos, o Brasil já é o caos.
Provavelmente, esse terço satisfeito compõe-se dos que mamam nas tetas do sistema, aqueles que se beneficiam da engrenagem podre e, por conveniência ou covardia, fingem não ver o que escorre aos olhos de todos. A rendição do Legislativo ao STF é marca registrada: processos escabrosos repousam em pautas silenciosas, esquecidos sob a toga da seletividade.
A esta vergonha soma-se o escárnio institucionalizado das emendas parlamentares, que escorrem como moedas de troca entre gabinetes. O que deveria ser política pública virou balcão de negócios e sem pudor algum. O Legislativo se veste de paladino do povo, mas atua com ferrenha precisão na defesa dos próprios interesses, enquanto o Executivo se ombreia a ele num abraço promíscuo. É uma simbiose doentia. Poderes? “Podreres”.
Já o Judiciário… melhor dizer: dois. Comento o mais contraditório, o que trai a própria razão de existir. O que deveria ser guardião da Constituição, transforma-se em ator de vaudeville político. Toga vestida, sentença na gaveta, discurso inflamado, mas ao gosto da militância. No Brasil, o azul e o encarnado não são cores ideológicas, mas bandeirinhas de quermesse, onde o ponto alto ainda é o leilão da galinha com farofa.
E pensar que, em tempos não tão distantes, ainda se ouvia uma ou outra voz se levantar com altivez contra toda essa marmota. Hoje, o que reina é a indignação silenciosa e a covardia eloquente. Não se trata do silêncio dos inocentes. É o voo livre das aves de rapina. É o banquete dos ratos que roem e culpam o queijo. É a festa dos abutres que trucidam, sem dó nem piedade, os miseráveis que rastejam pelo país. Vale tudo na luta pelo poder. Vale até perder a alma.
Pode-se tentar escrever belas narrativas, mas a verdade dos fatos está aqui, crua, impiedosa, mais próxima, se não idêntica, a este despretensioso relato.
