O pano de fundo
A direita nasceu do desgaste que implodiu Dilma e levou multidões às ruas. Isso, a partir das jornadas de 2013. Era o exato momento em que esquerda começava a ser engolioda por não saber lidar com as novas tecnologias que passaram a ser parte central do cotidiano dos m,ais jovens. Então, a direita cresceu na crise, se fortaleceu no impeachment e se alimentou do caos bolsonarista. Parecia dona da narrativa, mas hoje assiste à esquerda retomando o asfalto.
O equívoco
Bolsonaro terceirizou a política ao Congresso e preferiu o circo digital. Cercou-se de fardas sem traquejo e surfou no improviso até ser engolido pela própria trama golpista. Condenado, deixou o campo da direita órfão e desorganizado.
O desastre
Sem liderança, sobraram impulsos. Eduardo Bolsonaro, no papel de herdeiro, trocou estratégia por destempero. Atacou aliados, queimou pontes, fugiu para os EUA e transformou ressentimento em caricatura. Resultado: mais munição para Lula.
O presente de grego
Na falta de rumo, o Centrão empacotou a anistia junto com a PEC da Blindagem. A direita embarcou sem pensar. Foi como acender fósforo em palheiro: a esquerda respondeu em 48 horas com shows, artistas, bandeirões e quase 100 mil pessoas entre Paulista e Copacabana.
O recado das ruas
Não foi rede social. Foi chão quente, com povo, símbolos e música. E nada aterroriza mais o Congresso do que ver a rua pulsando de novo – agora pintada de verde, amarelo e vermelho.
O ponto cego
A direita, desorientada e rancorosa, se tornou o maior capital político de Lula. Ao errar na tática, devolveu ao PT o palco que mais importa: o da rua. “A direita bolsonarista é o maior ativo de Lula. Foi ela quem o ressuscitou duas vezes e, de quebra, ainda deu à esquerda o motivo que precisava para voltar a ocupar as ruas” (Sergio Denicoli, no Estadão).
Provocação final
Quem ainda acha que a política cabe numa bolha digital não entendeu o jogo. O asfalto fala mais alto. E, quando a esquerda aprende de novo a ocupar esse espaço, sobra à direita apenas o papel de escada.