Do Código Civil e da gramática; Por Paulo Elpídio de Menezes Neto

COMPARTILHE A NOTÍCIA

Uma pintura do século XIX de Julius Hübner retratando Lutero pregando suas 95 teses na cruz diante de uma multidão. A prática de afixar teses antes de uma disputatio era uma exigência da Universidade.

“A Teologia é a gramática do Espirito Santo”, Martinho Lutero

Dizia o filólogo da familia, o primeiro dos Elpídios, e o mais critico da estirpe valorosa de Porteiras, que o “povo faz a lingua”. “Em termos”, contestaria o neto. Afinal, no vernáculo, como nas leis do Estado, quem faz a regra não é o povo, mas os que pretendem representá-lo.

Senadores, juizes e jornalistas, não necessariamente nesta ordem, fazem as leis, os códigos, as taxas, os emolumentos e as posturas, condenam, absolvem e multam. Já os gramáticos, os escritores, os artistas de todo gênero — fixam regras em nome dos habitantes de um determinado país — ou criam um estilo que os distinga para alcançar legitimidade…

No caso da língua falada e escrita, são estes xamãs que instituem e regulam a forma como as pessoas devem comunicar-se. Não é o povo. Esta abstração politica — povo — não emplaca uma dentro, sem a cumplicidade dos que o representam no Parlamento, na Cúria, na Universidade, nos demais sodalicios e nos sindicatos, na qual as criaturas se recolhem em um processo de beatitude e mútua proteção.

A gramática e a dicionarização são instrumentos poderosos — menos para enriquecer. Paradoxalmente, ricos e pobres não estão nem aí para esses canais autoritários dedicados ao disciplinamento do uso do vernáculo. Falam como querem e dizem o que lhe assoma à cabeça, com os prejulgados de ocasião.

Já escritores, artistas e jornalistas dividem-se entre os que seguem a regra culta e os que criam um estilo próprio. São uma espécie de contraventores da lei e da ordem do léxico. A exemplo de outros fora da lei e da gramática recebem a indulgência dos que poderiam castigá-los.

Muitos dos escritores, artistas e jornalistas, “performers” e “influencers” autonomeados, ganham notoriedade em um mundo à parte — o paraíso dos “intelectuais” e da mídia e recebem salvo-conduto para exprimirem o que pensam com as garantias que o “povão”, como nós, lhes dá com a sua boa-fé ou ignorância o que dá no mesmo.

A “transcrição” da realidade em informação e “noticia” e a “fabricação” da “opinião” são uma espécie de artesania estético-cirúrgica de efeito. Em casos como estes, são de reconhecida valia certos controles que alguns implicantes chamam de “censura”. Sinal dis tempos, os rigores da censura são quase sempre aplicados à realidade presumível e não ao seu registro textual…

É aí que transparece a relação abismal entre “emissor” e “receptor” da mensagem. MacLuhan [“a mensagem é o meio”] ocupou-se a seu tempo destes contraditórios. O que é “dito” e o que é “entendido”. Ou o que é dito como indução para que o “receptor” possa “construir” a sua percepção e modelar a sua “opinião”…

Os sinais e os simbolos são sinais marcantes de uma linguagem afirmativa, adorada pelas industrias da fé e pelas ideologias. Mas isso é outra conversa. Fica para depois.

Paulo Elpídio de Menezes Neto é articulista do Focus, cientista político, membro da Academia Brasileira de Educação (Rio de Janeiro), ex-reitor da UFC, ex-secretário nacional da Educação superior do MEC, ex-secretário de Educação do Ceará.

COMPARTILHE A NOTÍCIA

PUBLICIDADE

Confira Também

PEC da Blindagem ou PEC da Bandidagem?

De “abutre” a aliado: Valdemar declara apoio do PL a Ciro com foco em derrotar o PT no Ceará; Veja vídeo

Ceará pode virar coração digital da América do Sul, diz estudo do BTG

Encontro de Chagas e Rueda em Fortaleza abre articulação decisiva do União

PDT fluminense sonha com Ciro para disputar Governo do Rio de Janeiro

GM vai montar elétrico Spark no Ceará: importante fato novo industrial — e ativo político para Elmano

“Vamos pra cima”: Elmano endurece discurso em meio à onda de violência no Ceará

AtlasIntel: entre criminalidade e economia estagnada, Lula vê erosão no apoio e avanço de Tarcísio

Chiquinho Feitosa reúne Camilo, Evandro e Motta em articulação para 2026

A disputa no Ceará e os passageiros do carro dirigido por Ciro Gomes

Do cientista político Andrei Roman (AtlasIntel): Lula não é favorito em 2026 porque perdeu o ‘bônus Nordeste’

Vídeo de Ciro no centrão: discurso contra Lula e aceno à centro-direita e centro-esquerda

MAIS LIDAS DO DIA

Bancada do Ceará: unidade na PEC, racha no voto secreto

PF investiga Rueda, que foi cortejado por governistas e oposição no Ceará

Inteligência Artificial prevê risco de mais de 1.000 doenças com até 20 anos de antecedência

TST confirma condenação do Vasco em caso de contratação de jogadores adolescentes

MPCE pede interdição de barracas em Canoa Quebrada

Ceará lidera turismo no Nordeste e cresce acima da média nacional

Câmara aprova urgência para projeto que concede anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023

Chamada Nordeste: fila de projetos expõe apetite e pressão por crédit

Rota das Falésias une forças para impulsionar o turismo no Litoral Leste