O retorno de Ciro Gomes ao PSDB, confirmado para a próxima quarta-feira (22), não é apenas um movimento partidário — é um abalo sísmico na geografia política do Ceará. Traz de volta ao mesmo palco dois veteranos que moldaram a política estadual: Ciro, disposto a disputar novamente o governo pelo partido em que se elegeu há 35 anos, e Tasso Jereissati, que prova não estar nem perto da “aposentadoria” e segue como maestro da oposição.
“As pessoas querem o Ciro, e nós vamos ter o Ciro governador, se Deus quiser, com o Tasso junto. O Ceará precisa disso”, resumiu o presidente estadual do PSDB, Ozires Pontes.
O movimento tucano é mais que um reencontro nostálgico. É uma tentativa de unificar a oposição ao governador Elmano de Freitas (PT), hoje ancorada por Camilo Santana e Cid Gomes, e realinhar forças diante da migração de figuras como Roberto Cláudio ao União Brasil. Até antigos adversários, como André Fernandes (PL), foram incluídos nas conversas.
Volta ao berço político
Ciro deixa o PDT, partido onde passou mais tempo, frustrado com a adesão ao PT em todas as esferas. A derrota de Roberto Cláudio em Fortaleza e a debandada interna selaram um ciclo. Agora, o ex-ministro retorna ao PSDB em busca do mesmo objetivo de 1990: governar o Ceará. Uma candidatura presidencial futura não está descartada, mas o foco imediato é reconstruir seu grupo político pelo berço onde tudo começou.
Tasso no comando
A articulação foi toda costurada por Tasso, que conduziu conversas com todos os setores da oposição e transformou a ideia de uma chapa única de “utopia” em quase unanimidade. Sua atuação desmonta a tese de que teria deixado o tabuleiro — ao contrário, o ex-senador reafirma-se como fiador político de um novo ciclo tucano no Estado.
A oposição que se alia e se contradiz
Enquanto tenta reorganizar o campo opositor, o bloco tucano convive com contradições incômodas. O deputado André Fernandes (PL), por exemplo, defende anistia a condenados por crimes contra a democracia e usa emenda parlamentar para comprar armas dizendo esperar que policiais “matem muitos bandidos” — prometendo condecorar os que mais matarem.
O discurso da “lei do faroeste” convive com a defesa de garantias jurídicas para aliados políticos, revelando um abismo ético que poderá pesar nas urnas. A questão que se impõe é: como Tasso, Ciro e Roberto Cláudio reagirão a esse tipo de pauta no mesmo palanque?
Vá mais fundo
A volta de Ciro ao PSDB é mais que um retorno ao passado. É a tentativa de refundar a oposição cearense em torno de um eixo clássico — com Tasso no comando e Ciro no front —, mas agora em um ambiente político muito mais radicalizado e com novos atores disputando espaço. A dúvida que paira: esse reencontro histórico será suficiente para devolver aos tucanos o protagonismo que já tiveram — e que dizem querer de volta?