Ontem, no elevador de um prédio comercial qualquer, desses onde a esperança anda em pastinhas e a verdade se esconde atrás de propagandas institucionais, ouvi a frase que talvez resuma o Brasil melhor do que qualquer editorial de jornal dito tradicional:
“Será que eles acreditam no que dizem? Se acreditarem, nós tamos é pebados.”
O autor da pérola era um rapaz franzino, camisa xadrez, calça apertada, pastinha no sovaco e olhar de quem já viu mais boleto do que pôr do sol. Talvez office boy, talvez vendedor de consignado. Mas, com certeza, filósofo da sobrevivência urbana.
Fiquei tentado a puxar papo, contar que Mussolini, ao sair do primeiro encontro com Hitler, soltou algo parecido:
“Esse homem é um perigo. Ele acredita no que diz.”
E veja, caro leitor, se até um fascista conseguiu perceber o risco da convicção cega, imagine o tamanho da ameaça quando o convencido veste faixa presidencial e jura que o mundo está errado, menos ele.
Hoje, o povo já nem duvida do que ouve. Ri com escárnio, torce o nariz, zomba. No fundo, sabe que a credibilidade das autoridades evapora mais rápido que o limite do cartão no açougue. Afinal, vivemos num país onde o presidente é ex-presidiário, os comparsas foram promovidos a conselheiros e a maior quadrilha de corrupção da história virou projeto de reeleição.
No Congresso Nacional, dois terços dos representantes respondem a processos ou já têm condenações, reféns de uma Suprema Corte que mais parece uma caverna disfarçada de tribunal. A própria Corte foi rebatizada pela voz do povo como Caverna do Batman, embora lá não habite nenhum justiceiro, apenas morcegos togados. Os tais capras pretas, que voam não para combater o crime, mas para sombrear a luz da justiça.
E, em meio a esse roteiro de tragédia tropical, os homens públicos ainda encontram tempo para afrontar o presidente dos Estados Unidos. Uma espécie de diplomacia de boteco, com sotaque de bravata e paletó amarrotado.
O Brasil, dizem alguns, está à beira do caos. Otimismo ingênuo. O Brasil já é o caos. Estamos todos dentro dele, apertando o botão do elevador, esperando que nos leve ao térreo da lucidez. Mas o painel insiste em travar no subsolo da vergonha.
E lá embaixo, como sempre, alguém com uma pastinha vai nos lembrar:
não é que eles dizem…
é que eles acreditam no que dizem.
E isso, meu amigo, é que nos pebou de vez.
