Fim de semana na Lagoa do Banana. No meio dos que bebem, eu me pergunto a razão desse nome, incongruente na questão de gênero. A lagoa tem o formato de uma banana, me informa um dos convidados. A resposta não justifica a dita questão de gênero. Uma olhada no Google Earth – milagre tecnológico que mostra a lagoa do jeito que Deus fez, e nos dá o poder de usufruir a mesma visão dos anjos –, mostra que a informação foi incorreta. Em nada a imensa lagoa se assemelha a uma banana.
Foi em homenagem a um dono de terra por aqui, diz outro. O Seu Banana. Essa razão me parece mais provável.
(Bom dia, Seu Banana! – teria cumprimentado um freguês, caso o Banana em questão tivesse sido um pequeno comerciante de frutas e verduras. Seu Banana, como o senhor tem passado? – questionaria uma vizinha simpática. Boa tarrrrde, Senhor Banana! – teria cantarolado, ao telefone, uma operadora de telemarketing vendendo o que o Seu Banana não precisava).
A hipótese ainda me parece estranha. Mas a banana gruda na minha cabeça, pelo visgo da nossa cultura bananeira, que nos disponibiliza, com tão fácil acesso, as opções de banana maçã, banana prata, banana ouro, banana nanica, banana da terra, banana pacova – pelo menos as variedades de que lembro agora.
Não me vem à cabeça nenhuma outra fruta, nenhum outro fruto, nenhum vegetal que participe tão próximo assim da nossa vida. Veja-se: temos o ato de plantar bananeira: posicionar-se com a cabeça para baixo e as pernas esticadas para o alto, o sangue refluindo rumo ao cérebro, batucando nos ouvidos dos adeptos da prática, mesmo em países onde não existem bananeiras nem batuques.
Dar uma banana: gesto aparentemente comum em discussões italianas. Aclimatou-se muito bem no Brasil. A preço de banana: hoje em dia, nada mais é barato assim. Nem a própria banana. Um banana: não o Seu Banana, o suposto dono do nome de batismo (de cuja existência ainda duvido), mas aquele cidadão sem iniciativa e sem vontade própria, mandado por todo mundo.
E tem mais. Casca de banana: armadilha traiçoeira, colocada de forma um tanto dissimulada, na qual qualquer um corre o risco de escorregar. Bananeira que já deu cacho: forma pejorativa de reduzir algo ou alguém a zero. Republiqueta de banana: sem comentários.
Apesar da rica variedade de usos do termo, a banana ainda é vítima de preconceitos. Um dia desses, na ilustre companhia dessa mesma turma da lagoa, fomos a uma lanchonete. Ou delicatessen. Ou padaria, dessas que brotam feito banana nas esquinas. O ruído de um liquidificador atrás do balcão, estrondando a todo vapor, fazia impossível qualquer tentativa de conversa. Um de nós reclamou, em alto e bom tom, pedindo para dar um tempo “na bananada”.
A gerente se ofendeu: não se tratava de “bananada”, algo que, pela expressão do rosto dela, rebaixaria a elegância do lugar. Estava sendo preparado, isso sim, sofisticada taça de uma bebida composta por ingredientes na linha dos morangos do amor do Himalaia, misturados ao sacrossanto sumo de kiwi de Bali, salpicado por pedacinhos de pitaya romena. Ou romana, justamente onde nasceu a expressão, e o nosso impulso coletivo, intuitivo, nascido naquela hora, de dar uma banana ao barulho.
A banana ganha categoria, e nos delicia também na receita de Delícia de Peixe, quando desfazemos as camadas alternadas de pescado, da fruta e do molho branco gratinado. Saboreamos a cartola, banana frita coberta por queijo derretido, recoberta com açúcar e canela. Doce de banana em rodinhas, ou em rodelas, daquelas que a avó fazia, são nossa madeleine. A banana seca para o lanche das crianças. O docinho de chocolate com banana. A tradicional bananada, por que não.
No fim das contas, nem lembro mais por que entrei nesse assunto de bananas (quando, na realidade, o que me interessava investigar era a razão de possuirmos lagoas, e não lagos…). Enfim. Ao que parece, entrei numa bananosa da qual só me restar buscar a saída, antes que eu fique mais embananada…
