Capitão Wagner vem colecionando uma montanha de acertos políticos enquanto enquanto o governismo ganha rachaduras que podem levar ao desmoronamento.
O pré-candidato do União Brasil flana com desenvoltura. Atentem para seus movimentos no Interior. Sim, não são muitos os prefeitos ao seu lado, mas em cada cidade há uma oposição que lhe abre os braços e concede-lhe um palanque.
Wagner é um dos dois únicos políticos do Ceará que são comandantes incontestes de uma grande corporação com força eleitoral e, portanto, política. É o capitão dos policiais militares, trabalhadores da área de segurança e suas famílias. Um nada desprezível contigente.
A propósito, a outra grande corporação, esta politicamente até mais poderosa que a dos policiais, tem Izolda Cela como referência: os mais de uma centena de milhares de trabalhadores da educação.
O Capitão está mostrando que tem habilidade e jogo de cintura no fazer político. Aplicou um duro golpe nas hostes governistas quando ganhou para si o mando do União Brasil no Ceará, sigla com latifúndio no horário de TV e dinheiro em caixa do generoso fundo eleitoral e partidário.
Mas Wagner não ficou deitado no berço esplêndido do UB. Foi ao mercado partidário e montou uma potente aliança para chamar de sua. Já firmaram compromisso com o pré-candidato os seguintes partidos: Avante, Pros, Podemos e PTB, além do seu União Brasil. Nada mal.
Wagner está tendo a coragem rara em nossa política de abrir mão de uma reeleição líquida e certa para a Câmara dos Deputados para se meter numa incerta disputa estadual. Cria para si o tipo da situação na qual mesmo perdendo, tende a sair ganhando – 2024 em Fortaleza está aí – no que pese a velhice atrasada de convocar a esposa para ocupar a sua vaga federal.
Prestem atenção em outro componente valioso que quase ninguém está vendo: o deputado circula célere por Brasília. Fala com todo mundo. Não cria arestas desnecessárias.
Alguém aí já viu ou ouviu o Capitão abrir o bico para criticar Lula? Qual nada! E ainda despista quanto ao apoio firme a Bolsonaro.
Não notaram? Escrevam: Wagner vai passar longe da próxima visita de Jair Bolsonaro ao Ceará. Sabe bem que o presidente pode ser o peso a lhe inviabilizar.
Lembrem-se ainda dos posicionamentos de Wagner nas propostas de reforma da época de Michel Temer para cá. Seus votos são praticamentes os mesmos que os da esquerda em questões de relevo, como a reforma da Previdência e a trabalhista.
Porém, mesmo com a conjuntura e a bagunça govenista lhe ajudando, ainda há grandes tarefas de fundo a fazer. Wagner teve uma grande oportunidade em fevereiro de 2020 de dar um rotundo “não” ao motim dos policiais. Vacilou com medo de perder parte de sua base. Abriu-lhe o flanco para ser tachado de capitão dos motins. O segundo de sua vida.
Felizmente, há um massa crítica no Ceará que é legalista, civilizada e não tolera “greve” de policiais armados e encapuzados.
Detalhe a não perder de vista: Wagner pode pegar Cid Gomes pela frente, o senador que levou dois balaços de um bando de policiais mascarados e amotinados em um quartel de Sobral. Naquele momento, outra vez o Capitão errou.
Só lhe cabia uma coisa diante daqueles terríveis acontecimentos além de condenar o ato de seus colegas PMs: dedicar a mais absoluta solidariedade ao senador, sem deixar de ressaltar a imensa inadequação da atitude tratorística de Cid.