A crescente expansão do mercado livre de energia no Brasil tem sido o principal motor para o desenvolvimento de novos projetos de usinas solares fotovoltaicas de grande porte no país, conforme destacou Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). “Esse tem sido hoje o mercado líder em expansão de capacidade de geração no Brasil, não mais o mercado regulado”, afirmou Sauaia.
A mudança ocorre em meio a um cenário onde a contratação de energia em leilões regulados pelas distribuidoras tem diminuído, devido à sobrecontratação dessas concessionárias para os próximos anos. No mercado livre, grandes consumidores de média e alta tensão podem contratar diretamente a energia de empresas geradoras ou comercializadoras, deixando de consumir a energia fornecida pela distribuidora local.
Desde janeiro de 2024, clientes com demanda superior a 500 quilowatts-hora (kW) ganharam a opção de aderir ao mercado livre. A expectativa é que, na próxima década, o mercado seja aberto a todos os consumidores, incluindo residenciais.
Crescimento da capacidade solar no mercado livre
Atualmente, o Brasil conta com cerca de 45 gigawatts (GW) de capacidade instalada de energia solar fotovoltaica. Desse total, 30 GW estão distribuídos em sistemas de pequeno porte, no modelo de geração distribuída, onde o próprio consumidor gera a energia que consome. Os 15 GW restantes estão em usinas solares de grande porte, chamadas de geração centralizada, que incluem projetos contratados tanto em leilões quanto no mercado livre.
O mercado livre tem absorvido uma parcela significativa dessa capacidade. Desde 2019, quando a energia solar se tornou a fonte mais barata contratada em leilões, o mercado livre de energia passou a investir com mais força nessa tecnologia. A tendência, segundo Sauaia, é que até 80% dos novos projetos centralizados sejam voltados para o mercado livre.
Desafios e oportunidades no mercado de energia solar
A previsão da Absolar para 2024 é de um aumento de 9,4 GW na capacidade instalada de energia solar no Brasil, com 6 GW provenientes de projetos de geração distribuída e 3,4 GW de geração centralizada. Apesar do interesse crescente em ambos os segmentos, Sauaia ressalta que a volatilidade dos preços no mercado livre tem dificultado o fechamento de contratos de longo prazo, afetando a viabilização de novos empreendimentos.
Apesar desses desafios, a competitividade da tecnologia solar continua a crescer. A energia solar teve uma queda de 86% em seus preços ao longo da última década, impulsionada principalmente pela redução nos custos dos módulos solares e outros equipamentos. Em 2023, a entrada em operação de nova capacidade produtiva globalmente resultou em uma queda adicional de 30% a 50% no custo de instalação de projetos solares fotovoltaicos, dependendo do país.
No entanto, no Brasil, essa redução tem sido atenuada pelo alto custo logístico, especialmente no transporte marítimo dos equipamentos, que são majoritariamente importados da China. Esse fator impacta o planejamento e as estratégias de investimento dos empreendedores no setor.
Ainda assim, o mercado solar continua a se adaptar à nova realidade dos preços, com o setor trabalhando para incorporar essas mudanças nos contratos mais recentes negociados no mercado livre. “Apesar da energia solar hoje já ser uma fonte altamente competitiva no mundo inteiro, ainda tem muito espaço para a redução de custos porque nós ainda não chegamos ao limite tecnológico”, concluiu Sauaia.