O melhor dos mundos para um prefeito de pálida aprovação – caso de José Sarto em Fortaleza – é entrar em disputa por reeleição num cenário congestionado de candidatos com alguma expressão (seja de popularidade, prestígio ou recursos).
Nesse tipo de engarrafamento (para ficar na metáfora urbana), o prefeito de plantão transita como um adestrado motoboy, porque trafega, por óbvio, com a fluidez que a máquina de prestar favores, distribuir asfalto e senhas de atendimento lhe permite.
Toda vez que surge um novo nome com chances de alcançar dois dígitos na disputa, o prefeito esfrega as mãos e se sente tentado de chamar a todos eles, ironicamente, de “companheiros”.
Se, no campo de centro esquerda, já se tenta administrar um conflito potencial entre as pretensões da deputada Luizianne Lins e do presidente da Alece, Evandro Leitão, no espectro da direita as lideranças do legado bolsonarista também não andam falando a mesma língua.
André Fernandes, para quem Capitão Wagner é um “traidor”, é um típico representante dos invasores no incidente de 8/1 – candidato de quem teme se vacinar e virar galinha, de quem pensa que a terra é plana e Lula é um comunista.
Capitão Wagner entrará na disputa tentando dissolver a lembrança de sua fraternidade com o outro capitão, o inelegível, fixando-se como candidato daqueles que o petismo cunhou pejorativamente como “pobres de direita”, isto é, a legião de assalariados conservadores que se espalham pela extensa periferia da quarta maior população urbana do país.
Agora, ampliando ainda mais a margem de segurança do prefeito em suas possibilidades de alcançar o segundo turno, anuncia sua disposição de entrar na disputa o senador Eduardo Girão, outra carimbada figura do liberalismo radical associado às pautas conservadoras, nos costumes sobretudo, mas também entusiasta de inclinações autoritárias.
Até aqui, pouco se sabe nas ruas se há entre eles a crença de que o eleitorado de direita e centro comporta o abrigo de quatro candidatos – o prefeito e eles três. Até onde há nisso uma estratégia de acumulação de força para, ao fim, derrotarem juntos o Lulismo, hoje predominante na política estadual, apoiando, todos, aquele candidato que, entre eles, consiga sobreviver? Não é dito ainda.
Na outra ponta da calçada, a tração das tradições petistas, representada pela estrela raiz de Luizianne Lins, se debate contra o ímpeto das mudanças cujo leme tem a punho o ministro Camilo Santana, patrono da pré candidatura de Evandro Leitão.
Enquanto isso, José Sarto assina ordens de serviço, autoriza verbas de propaganda, gasta a sola dos sapatos… e esfrega as mãos.