
O fato:
A General Motors (GM) está em negociações avançadas para utilizar a antiga fábrica da Troller, em Horizonte (CE), como base para a montagem de SUVs elétricos importados da China. A operação seria feita em parceria com a Comexport, empresa que assumiu o controle do complexo fabril após o fim da Troller, encerrada pela Ford em 2021. O fato foi divulgado em reportagem do UOL, assinada pela colunista Paula Gama.
O contexto:
O plano da GM envolve a adoção do regime SKD (semi knock-down), em que os veículos chegam parcialmente desmontados ao país e são finalizados localmente. Esse modelo de montagem permitiria à GM se beneficiar dos incentivos fiscais federais prorrogados até 2032 para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste — uma das principais vitórias políticas da bancada nordestina durante a reforma tributária.
Por que importa:
Se confirmado, o movimento representaria o retorno da produção automotiva no complexo industrial cearense da Troller, fechado após decisão global da Ford. Também marcaria a entrada efetiva da GM na guerra dos elétricos acessíveis no Brasil — hoje dominada por marcas chinesas como BYD, GWM e Seres.
Aspas:
“Meu sonho é poder produzir esses veículos aqui”, afirmou Santiago Chamorro, presidente da GM na América do Sul, referindo-se aos modelos Spark EUV e Captiva EV, dois SUVs elétricos de origem chinesa.
“Um Spark feito na China consegue ser mais rentável do que um Tracker feito aqui, mesmo com 25% de imposto de importação”, completou.
Vá mais fundo:
▪️ Incentivos sob disputa: A GM foi uma das montadoras que, durante a reforma tributária, se posicionou contra a prorrogação dos benefícios fiscais para regiões como o Nordeste. Agora, com a possibilidade de acesso ao polo cearense via Comexport, a estratégia muda.
▪️ Concorrência acirrada: Marcas como Stellantis (em Goiana-PE) e BYD (em Camaçari-BA) já operam ou constroem fábricas no Nordeste com vantagens fiscais semelhantes, o que acirra a competição interna entre montadoras.
▪️ A encruzilhada da indústria nacional: Analistas do setor veem no movimento da GM a confirmação de um problema estrutural: produzir no Brasil custa caro. Tributos, logística, gargalos de infraestrutura e falta de cadeia tecnológica fazem com que até grandes fabricantes com décadas no país percam competitividade.
O que dizem os especialistas:
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“Enquanto a China construiu uma cadeia completa e eficiente, o Brasil ficou preso a modelos antigos e perdeu o timing da transição energética”, diz Milad Kalume Neto, da K.LUME Consultoria.
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“A fábrica da Troller pode ser uma boa saída para a GM, mas o problema de fundo segue o mesmo: o país não fez sua lição de casa”, afirma Ricardo Bacellar, consultor do setor automotivo.
Ceará no radar global:
Se o acordo for concretizado, o estado pode voltar ao mapa da indústria automotiva com protagonismo. A antiga fábrica da Troller, conhecida por sua eficiência e capacidade técnica, estava ociosa desde a saída da Ford. Agora, pode se tornar a base para o futuro elétrico da GM — e recolocar o Ceará na disputa por empregos industriais qualificados e inovação verde.