O governo anunciou a redução a zero da alíquota de importação para carnes, café, açúcar e outros produtos da cesta básica. A medida, no entanto, é vista como inócua e irrelevante para conter a inflação de alimentos no curto prazo pelo simples fato de o Brasil ser o maior produtor mundial da cesta citada.
O que está acontecendo?
• O Brasil é o maior produtor mundial de carne, café e açúcar, o que torna a medida praticamente sem efeito, já que não há oferta externa significativa desses produtos para importação.
• Além disso, itens como óleo de girassol, que também teve sua alíquota zerada, são pouco consumidos no país e não devem ter impacto na inflação.
• O governo também anunciou uma cota de importação para o óleo de palma, mas o preço desse produto está em alta no mercado externo, o que neutraliza qualquer benefício da redução da tributação.
José Carlos Hausknecht, economista da MB Agro, alerta que as medidas não terão impacto significativo nem a curto nem a longo prazo. Segundo ele, a única mudança que pode trazer algum alívio é a zeragem do imposto sobre as massas alimentícias (Estadão).
Inflação de alimentos tem causas estruturais
O economista Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências, avalia que o aumento dos preços da comida está ligado a fatores estruturais como:
• Oferta e demanda, que dependem do aumento da área de plantio e produção, o que leva tempo para ser implementado.
• Fatores climáticos, que afetam diretamente a produção agrícola e a criação de gado.
• Ciclos de produção, especialmente no caso da carne, que têm variações sazonais de oferta.
Ou seja, não há solução rápida para a alta dos preços dos alimentos, e medidas pontuais como a redução de impostos sobre importação dificilmente trarão efeitos práticos.
Estoques reguladores podem ter efeito contrário
O governo também propôs o fortalecimento dos estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mas especialistas apontam que essa ação pode ser contraproducente:
• Para formar estoques, o governo precisa comprar produtos, o que pode gerar um efeito oposto e elevar os preços no mercado interno.
• Como os preços dos alimentos já estão altos, essa estratégia poderia, na prática, agravar a inflação em vez de reduzi-la.
Hausknecht também questiona o impacto da inclusão do Plano Safra no pacote de medidas. Segundo ele, arroz e feijão – os dois principais itens da cesta básica – já estão com preços em queda, tornando a medida irrelevante no curto prazo.
Política econômica ou estratégia política?
Economistas avaliam que as medidas anunciadas pelo governo têm mais relação com a queda da popularidade do presidente Lula do que com uma estratégia efetiva para conter a inflação.
Campos Neto, da Tendências, destaca que o governo vem sofrendo forte pressão política devido à alta dos preços dos alimentos, que afeta principalmente a população de baixa renda. O pacote, portanto, teria um caráter mais simbólico.