Se não bastassem os inúmeros e graves problemas causados nos mais de dois últimos anos pela pandemia do COVID-19 onde vem causando milhões de mortes e intensa crise econômica em todo o mundo, com efeitos inflacionários globalizados pelas restrições de oferta frente ao aumento da demanda na produção, o cenário geopolítico nas últimas semanas vem apresentando fatos lamentáveis e tensões não vistas desde a segunda guerra mundial com a invasão da Rússia a Ucrânia por interesses relacionados a economia como as commodities produzidas nestes dois países.
As commodities já vem tendo impacto em seus preços, principalmente no petróleo, gás, milho e trigo, bem como nos preços de alimentos em geral.
Quando se desenha um cenário como este gera-se uma maior incerteza no mercado quanto a ameaça de sanções econômicas severas à Rússia gerando interrupção e/ou redução da produção de petróleo e gás fazendo com que os agentes econômicos antecipem esse movimento favorecendo a elevação dos preços e assim impactando diretamente nos preços dos combustíveis e por consequência os custos nos fretes dos produtos.
Outro ponto relevante é a maior insegurança gerada as empresas e famílias, refletindo em uma maior cautela com gastos, seja com consumo ou com investimento, e aumentos de markups que representa a diferença entre preços e custos. Essa combinação traz consigo menos atividade econômica, reduzindo a produção e renda, bem como gerando desemprego.
Ao se analisar pelo lado da Ucrânia a mesma tem um papel considerável na produção de milho e trigo. Seguindo o mesmo raciocínio dos preços do petróleo, há uma antecipação da redução na oferta, o que gera o aumento nos preços internacionais.
Esse efeito dominó faz com que impacte rapidamente na qualidade de vida das famílias, principalmente elevando os preços nos itens de primeira necessidade, como o arroz e feijão por exemplo, mas também em toda uma cadeia de proteína animal. Desta forma, os preços dos alimentos devem contribuir de forma representativa também para o aumento da taxa de inflação em diversos países.
Nas economias emergentes, como o Brasil, provavelmente se manifestará em um movimento de busca por ativos mais seguros, o que acarreta saída de capitais e/ou diminuição da entrada dos mesmos.
Quando isso ocorre, há venda da moeda local, no caso reais, para comprar a moeda estrangeira, dólar ou euro por exemplo, fazendo com que o câmbio local se desvalorize, impactando os custos pelo aumentos dos preços em moeda local dos insumos importados ou pela diminuição da competição em bens finais, levando também a elevação da inflação.
Esses fatos em conjunto geram um movimento de pressão na condução da política monetária contracionista com o aumento de juros praticados no mercado, bem como elevando o depósito compulsório para reduzir a oferta de capital na economia.
Quanto a política fiscal, a mesma terá um menor espaço e os canais indiretos de transferências serão evitados, como auxílios emergenciais por exemplo as famílias, tando pela queda na arrecadação do governo como também pela manutenção do teto dos gastos, impactando diretamente as famílias de baixa renda, reduzindo o PIB por consequência.
Fábio Castelo Branco, economista e conselheiro do Corecon-Ce