As imagens de um Ciro Gomes sorridente ao lado de próceres da oposição cearense na Assembleia Legislativa do Ceará roubaram a cena política nesta terça (06/05). No já quase tradicional encontro das terças-feiras, desde que o ano legislativo teve início, sempre regado regado a um primoroso cardápio, deputados da oposição na ALECE receberam o ex-prefeito, ex-governador, ex-deputado, ex-ministro e ex-presidenciável Ciro Gomes (Veja detalhes aqui)
Aliás, foi inusitado ver a deputada do PL, Silvana Pereira, rasgar elogios ao ainda pedetista, assim como seu correligionário, Pastor Alcides Fernandes, que “ganhou” o dia com a promessa de Ciro de nele votar para o Senado.
Não seria surpresa nenhuma ver os deputados Antonio Henrique, Queiroz Filho ou Lucenildo Frota a congratularem-se com a visita do irmão mais velho de Cid Gomes (PSB), que tem feito as mais importantes movimentações na política cearense tendo em vista as eleições de 2026.
Surpreendente, mesmo, foi ver nomes do União Brasil (como Sargento Reginauro e Felipe Mota) a sorrirem para a pose da foto ao lado de Ciro; logo Ciro Ferreira Gomes, que carrega os dois sobrenomes que legitimaram parte considerável do capital político acumulado pelo grupo ao qual os deputados pertencem – ou seja, eram eles a oposição aos “Ferreira Gomes”.
Os males inteiros do Ceará advinham, até pouquíssimas horas atrás, da “herança maldita dos Ferreira Gomes“, como essa turma costumava enunciar.
Não bastasse isso, ainda tivemos de ouvir, na visita, Ciro Gomes pronunciar o nome de um ex-desafeto: Capitão Wagner! Desta vez, sem qualquer ataque desabonador; pelo contrário, apontando para a aliança que se formará em alguns meses para “salvar o Ceará“!
Haja coração para lidar com a política!
Também bolsonaristas alencarinos, que até pouco tempo falavam em “ditadura dos Ferreira Gomes“, f0ram convertidos, nesta terça, ao aconchego da foto com Ciro: não faltaram elogios de Silvana ao pedetista, nem dele a Alcides, a quem nomeou como um “homem de testemunho“!
Como era de se esperar, o encontro repercutiu nos discursos da sessão desta terça na ALECE. Petistas atacaram a promessa de “salvação” feita por Ciro, a quem dirigiram-se em busca de “obras” dele feitas no Ceará (exageros à parte, por óbvio); pedistas oposicionistas, por outro, cantaram o “desespero” da base com a visita.
A oposição “raiz” sorria com os ataques dos ex-aliados.
Ciro, como disse o deputado Alcides, resolveu ir para o “confronto”, termo bem ao gosto de políticos que se entendem como “inimigos” de outros, não como “adversários”.
Em grupos “conservadores” de whatshap de que participo o encontro foi visto com bastante desconfiança. Um verdadeiro “cavalo de Tróia” do “esquerdista” Ciro.
O que fica para refletir é o seguinte: a ida de Ciro teve como objetivo solidificar o nome de Roberto Cláudio para a disputa do ano que vem, como candidato ao Palácio da Abolição, enunciando a saída de Wagner de páreo (após quatro derrotas consecutivas) e a parceria do PL de André Fernandes, com seu pai numa das vagas para o Senado.
A entrada em cena de Ciro Gomes no campo já cercado pelo bloco oposicionista (PL-UNIÃO-PDT cirista) permitirá a saída da discursividade “anti-ferreira Gomes” para a do “anti-petismo“, unindo desafetos do campo governista num leque discursivo maior.
Justamente dias depois de vermos Cid Gomes dizer que, “nacionalmente“, não estaria em lado diferente do seu irmão mais velho. Ok, e localmente?
Há muitos ingredientes no “café da oposição“, com os nomes naturais garantido cada qual seu quinhão: André e o PL com a vaga senatorial, o União com a vaga de deputado para Wagner e o PDT, em vias de perder a filiação de Roberto, com a promessa da vaga ao governo.
Não será, a preço de hoje, a disputa mais difícil, daí a “entrega” do capital político da oposição “natural” a um nome “não natural”, recém-convertido a esse lócus da política?
Bom, com tanto “café” prestes a encontrar a água fervente das eleições, resta saber quem será o bule para servi-lo.