
O que está acontecendo
Importadores americanos pressionam o USTR (Escritório do Representante Comercial dos EUA) para que produtos tropicais, entre eles a água de coco brasileira, sejam retirados da lista de tarifas de 50%. A principal voz é a Vita Coco Company, sediada em Miami e listada na Nasdaq, que há 20 anos compra coco do Brasil.
A empresa argumenta que não há produção em escala nos EUA — logo, a tarifa não protegeria produtores locais, apenas encareceria o consumo e ameaçaria empregos da cadeia de bebidas naturais.
Papel do Brasil
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Em 2024, o Brasil exportou 52,7 mil toneladas de água de coco.
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95% foi para os EUA (49,9 mil toneladas).
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O produto já segue industrializado, envasado em caixas e pronto para o consumo.
O elo cearense
O Ceará é um dos maiores fornecedores dessa cadeia. Empresas instaladas no litoral cearense — região de forte vocação para o cultivo do coco — têm peso relevante na exportação. O estado aparece ao lado de Bahia, Paraíba e Alagoas como polo de produção e processamento.
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Clima e logística: a proximidade da Costa Leste americana torna o Ceará altamente competitivo, garantindo frete mais barato e rápido em comparação a outros países asiáticos.
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Sustentabilidade: parte das companhias locais opera com programas de reaproveitamento da casca e da água residual, narrativa valorizada pelo mercado premium de bebidas nos EUA.
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Emprego regional: pequenos agricultores e cooperativas no interior do Ceará fornecem coco verde para as indústrias, que fazem o envase e enviam para Miami e Nova Iorque.
Impactos em jogo
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Se a tarifa for mantida:
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empresas cearenses perdem competitividade frente a produtores asiáticos;
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a Vita Coco pode redirecionar compras para Filipinas e Vietnã;
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agricultores do litoral cearense, já pressionados pela seca e custos logísticos, veriam margem de lucro minguar.
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Se a isenção prosperar:
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o Ceará reforça posição como hub de exportação para os EUA;
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consolida imagem de fornecedor sustentável e estratégico;
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amplia espaço na cadeia global de bebidas funcionais, segmento em crescimento.
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O pano de fundo
A investigação americana ocorre sob a Seção 301 do Trade Act de 1974, dispositivo usado para contestar práticas comerciais. O caso não envolve só coco: abrange também etanol, comércio digital, desmatamento ilegal e propriedade intelectual. Ou seja, está inserido num tabuleiro maior de tensões Brasil-EUA.
O governo brasileiro promete uma “defesa robusta”. A CNA deve reforçar que o produto não tem substituto local nos EUA, e que a tarifa ameaça diretamente cadeias produtivas no Nordeste, onde o impacto social é significativo.
👉 Vá mais fundo:
O caso da água de coco mostra como uma commodity aparentemente simples se tornou peça de pressão diplomática. Para o Ceará, o risco não é apenas perder exportação: é ver comprometer-se uma narrativa construída nos últimos 15 anos, que uniu pequenos produtores, indústrias locais e multinacionais em torno de um produto saudável, sustentável e altamente simbólico do Nordeste.