A possibilidade de escolheu um novo ministro para o STF recolocou no colo do presidente Lula (PT) um oportunidade de aproximar-se dos evangélicos (leia-se: “de algumas de suas lideranças“), com a possível indicação de Jorge Messias, evangélico da Igreja Batista, para ocupar a vaga de Luís Roberto Barroso.
De quebra, o presidente pode ampliar o número de evangélicos no Supremo (de 1 para 2), e ser tido, para o segmento, como o presidente que indicou “50%” dos evangélicos que compõem a Corte. Os outros 50%? Indicação de Jair Bolsonaro.
Empate! Polarização!
A aproximação de Lula e de seu governo com o segmento é imprescindível para o jogo eleitoral do ano que vem. Foram os evangélicos o seguimento em que o petista perdeu de goleada para Bolsonaro em 2022: pesquisas apontavam 70 a 30% em favor do ex-presidente. Nas pesquisas de avaliação do governo, a reprovação do governo entre eles também permanece alta: em torno de 63%, contra 30% que timidamente o aprovam.
Na eleição de 2022 vários foram os movimentos prometidos para essa aproximação: desde a escolha de um pastor para servir como interlocutor, no começo daquele ano, passando por encontros tímidos, referências bíblicas mal feitas por Lula (até comparar Bolsonaro com fariseus) e uma tímida cartilha direcionada ao segmento, publicada às vésperas do segundo turno.
Tudo soou como eleitoreiro; afinal de contas, Bolsonaro frequentou igrejas durante os quatro anos de mandato e tinha seu lado os poderosos caciques da bancada evangélica e das mega igrejas.
Neste ano de 2025, que antecede o pleito presidencial, o PT já lançou curso sobre identidade cristã e esquerda; a primeira dama, Janja da Silva, vem realizando encontros com mulheres evangélicas; e agora Lula tem a chance de emplacar um gol com essa indicação.
Na semana que passou, recebeu em Brasília um dos mais poderosos líderes religiosos: o bispo Samuel Ferreira, que preside um ministério das Assembleias de Deus que leva seu sobrenome; Assembleia esta que divide com a poderosa Igreja Universal do Reino de Deus a maior fatia de deputados federais eleitos sob a alcunha “evangélicos”. Consigo estava o deputado federal Cezinha da Madureira, também membro da Igreja.
O encontro, com direito à foto que o/a leitor/a vê na chamada para este texto, despertou a “santa ira” dos bolsonaristas: Silas Malafaia, que lidera a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, de sexta até esta segunda se viu obrigado a gravar dois vídeos, com velhos argumentos: quem é cristão não pode ser de esquerda nem votar no PT.
A ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também se obrigou a fazer postagem com passagens bíblicas remetendo à impossibilidade de “servir a dois senhores”, “praticar a injustiça” e outras coisas.
Ou seja, o possível efeito de redução da identificação entre bolsonarista e evangélico parece ter sido sentido; daí a reação de próceres do QG.
No meio de tudo isso, parlamentares evangélicos vão cerrando fileiras para, também eles, produzirem tal desassociação: a nível nacional, o carioca Otoni de Paula (MDB) tem cumprido à risca esse papel; por aqui a função tem sido exercida pelo Apóstolo Luiz Henrique (REP).
Mas a empreitada deve ser capitaneada, de fato, é por quem quer ganhar a eleição com esse apoio: ou seja, pelo PT e por Lula; este já passou um recado à militância num evento, vejam só, do Partido Comunista do Brasil, realizado na última sexta, mesmo dia em que se pôs em prece por Messias diante dos Madureira:
“Quando é que nós vamos deixar de dizer que os evangélicos são contra nós? O evangélico não é contra nós nada. Nós e que não sabemos falar com eles. Nós e que não sabemos discursar com eles. Então o erro tá na gente, o erro não tá neles. Então esse é o desafio”.
O desafio é este pelo menos desde a eleição de 2010, quando os religiosos conservadores deram mostras de que podiam travar o jogo político para a esquerda, que não deu a devida atenção à regra. De lá para cá vieram:
1- a vitória apertada sobre Aécio Neves, em 2014, com forte ajuda do segmento (Malafaia e Feliciano, por exemplo, lá estavam);
2- o impedimento de Dilma em 2016, com forte atuação do segmento;
3- a derrota para Jair Bolsonaro, em 2018 – entre evangélicos, por 55 a 45%;
4- a vitória mais-que-apertada sobre Bolsonaro em 2022;
5- a resiliência da reprovação do governo e de Lula.
E ai? Parafraseando Lula, “esse é o desafio“.
Resta saber se a militância de esquerda tocará o desafio ou o subestimará, uma vez mais.
