O fato: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (19) que o Brasil tem uma dívida histórica com o continente africano, que deve ser quitada com solidariedade, transferência de tecnologia e apoio à agricultura local. Ao discursar na abertura do 2º Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, em Brasília, Lula defendeu a cooperação como instrumento central no combate à fome e à pobreza.
“Não podemos pagar 350 anos de exploração com dinheiro, porque isso não se mensura em cifras. Mas podemos pagar com solidariedade, com transferência de conhecimento, para que vocês produzam parte do que nós produzimos”, disse Lula, dirigindo-se a ministros da Agricultura dos países da União Africana.
O evento, que ocorre até quinta-feira (22), reúne mais de 40 delegações africanas, organismos internacionais, bancos de desenvolvimento, instituições de pesquisa e representantes da agricultura familiar. A pauta principal é ampliar o diálogo Sul-Sul, promover a segurança alimentar e identificar oportunidades de investimento no setor agropecuário.
Fome como falha política: Lula voltou a criticar a falta de vontade política global no enfrentamento da fome, tema que o Brasil levou ao centro das discussões do G20 sob sua presidência em 2023. “A fome não é causada pela natureza. Ela é causada pela irresponsabilidade de quem governa e não faz da fome uma prioridade. É hora de parar com discursos vazios e executar programas concretos”, afirmou.
Durante a fala, o presidente reforçou o papel da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa que busca engajar governos e organismos internacionais na construção de políticas públicas efetivas. Ele também destacou o legado de suas gestões anteriores no fortalecimento das relações com o continente africano.
Modelo brasileiro como referência: A proposta do governo é compartilhar com os países africanos soluções brasileiras em áreas como agricultura familiar, saúde do solo, reuso de água, bioinsumos e convivência com a seca. A programação do encontro prevê visitas técnicas a projetos no entorno de Brasília e no polo agrícola de Petrolina, no Sertão pernambucano.
Para o governo, o fortalecimento da cooperação com a África é estratégico não apenas sob a ótica histórica, mas também geopolítica. Representantes africanos elogiaram o papel do Brasil na articulação internacional contra a fome e veem na experiência brasileira um modelo de enfrentamento à insegurança alimentar que pode ser adaptado às realidades locais.
O Diálogo Brasil-África é promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, com apoio de organismos multilaterais e entidades do setor privado.