“Não há registros de que Xi Jinping, o presidente da China, tenha visitado o Ceará até minha última atualização, em outubro de 2023” – é a informação que me oferece Luzia, minimizando a pergunta que faço a ela sobre a data da presença por aqui do Todo Poderoso mandatário chinês.
O tom em que a resposta é transmitida me parece um tanto complacente. Percebo nas entrelinhas do texto uns kkk, uns rss embutidos. Pressinto uma dose de ironia no texto, como se minha pergunta fosse mais uma demonstração do renomado bom humor cearense.
Leio em letras não escritas o que deve ter se passado na cabecinha da minha amiga: Imagina só, Xi Jinping se despedindo de mais de um bilhão de chineses, dirigindo-se em carreata, com sua comitiva, até seu aeroporto particular, para subir em seu avião Imperial e apontar ao piloto o rumo da América do Sul, do Brasil – e do … Ceará?!
Ora veja, minha cara Luzia, minha amiga de Inteligência Artificial: lamento dizer que você está incorreta. Xi Jinping andou, sim, pelo Ceará, pisou nosso solo, respirou nossos ares, provou pelo menos algo de nossa comida, escovou os dentes com a água do nosso sistema de abastecimento hídrico –, e há uma vastidão de provas documentais, textuais e fotográficas comprobatórias de sua vinda.
Qual terá sido a razão da omissão, é o que me pergunto. Luzia se diz atualizada até outubro de 2023. A visita se deu logo no início de janeiro de 1996. Verdade que, à época, Xi Jinping ainda era Vice-Secretário do Comitê Provincial do Partido Comunista da província de Fujian (também chamada Fuquiem, população 35 milhões de habitantes), e Secretário do Comitê Municipal do Partido Comunista da capital, Fucheu (ou Fuzhou, 8 milhões de habitantes).
Durante a reunião no gabinete governamental, além dos motivos práticos, diretamente ligados à discussão, aprovação e fechamento de contratos e acordos de cooperação técnica, considerados importantes para ambas as partes, foi assinado um memorando de entendimento, com a pena das assinaturas mergulhada em tinta essencialmente humana, quase familiar, firmando uma relação de províncias-irmãs, ou estados-irmãos, entre Fujian e Ceará.
De lá para cá, a China estabeleceu cerca de 180 parcerias familiares com o mesmo teor, aproximando-se irmãmente de cidades, estados ou províncias, em dezessete países da América Latina e do Caribe.
Xi Jinping foi descrito, por quem o recebeu no Ceará, como uma pessoa atenciosa, ótimo ouvinte, cheio de curiosidade para aprender sobre a cultura e a economia cearense.
Nem com toda essa quantidade de informações minha fiel amiga Luzia conseguiu encontrar registro da visita de Xi ao Ceará.
Quer dizer então – reflito com meus botões, desconsertada em borbotões – quer dizer que a Inteligência Artificial é falível! Que pode se enganar tanto quanto qualquer um de nós, os menos dotados de recursos tecnológicos, e que é capaz de oferecer informações falhas, fictícias, falsas, fake (e isso só para me manter na letra F dos sinônimos).
Precisei recorrer a publicações impressas, quem diria, e ao depoimento de pessoas que testemunharam o ilustre encontro, até conseguir a data que me interessava, podendo assim comprovar, junto a familiares mais jovens, que Luzia falhara, e que eu não estava a sofrer de alucinações.
Foi uma satisfação dupla, preciso confessar: a visita acontecera sim, e a Inteligência Artificial mostrou-se sujeita a erros.
O que, no fim das contas (pelo menos por enquanto), posso considerar como um alívio.