O fato: O Museu da Imagem e do Som do Ceará, criado em 1980, conta atualmente com um acervo composto por mais de 150 mil itens. Em meio às referências ao patrimônio material e imaterial do estado, nesses 44 anos houve diversos processos de aquisição, doação, preservação e salvaguarda nos quais foram reunidos múltiplos conteúdos e suportes que estão a serviço da população.
Como exemplo da relevância da atuação da Gerência de Acervo e Pesquisa do MIS-CE, técnicos do Museu da Imagem e do Som do Ceará têm sido convidados para participar de eventos para explicar como o trabalho de restauro digital de filmes cearenses é realizado no Museu. Isso aconteceu nesta semana, no Encontros IC Play, evento realizado pelo Itaú Cultural, em São Paulo. Outra iniciativa semelhante foi realizada durante a 19ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, realizada em junho de 2024.
No evento em São Paulo, David Felício e Gabriela Dantas, especialistas em preservação, conservação e digitalização de acervos do MIS-CE, apresentaram dois estudos de caso de restauro e digitalização de obras cinematográficas. Os filmes escolhidos foram “Jangada de ir e vir”(de Marcus Vale), e “Reis do Cariri” (de Oswald Barroso), que foi exibido na íntegra. A fala contou com cerca de 70 participantes.
A equipe do MIS-CE que fez a apresentação descreveu o processo de restauro de cada filme e dialogou com o público participante, formado por pesquisadores, técnicos e espectadores de cinema interessados no tema. Para a equipe técnica do MIS-CE, participar dos “Encontros IC Play” foi uma oportunidade de compartilhar o trabalho de digitalização e restauro digital de filmes realizados nos laboratórios do Museu, conectando o público com a importância da preservação audiovisual local e ampliando conexões com profissionais de outras instituições.
Acervo MIS-CE: Para dar a dimensão da quantidade e da diversidade de itens do acervo do MIS-CE, há cerca de 10,5 mil discos (entre os de vinil, cera e metal), aproximadamente 5,2 mil filmes, quase 21 mil slides, 53,2 mil negativos e mais de 32 mil fotos. Entre as coleções está o acervo do cearense Humberto Teixeira, com mais de 7,7 mil itens, que foi parcialmente utilizado na exposição “Quando o sertão ganhou o mar – a obra de Humberto Teixeira”.
Em março de 2022, o MIS CE foi reaberto após ampliação e vem passando por mudanças significativas que representaram ampliação do espaço, da equipe e das atividades. Ao longo desse período, o acervo vem sendo processado por equipe especializada e cerca de 30% do total foi catalogado. Para realizar pesquisas no Acervo do MIS, as pessoas podem entrar em contato por meio dos e-mails pesquisa.mis@institutomirante.org e acervo.mis@institutomirante.org.
Política de acervo: O MIS-CE está envolvido em um processo de recuperação e digitalização de um acervo que abrange quase 45 anos de história cultural, sonora e audiovisual. Este projeto é de extrema importância, pois visa não apenas preservar o vasto patrimônio já existente, mas também torná-lo acessível ao público, aos pesquisadores e às futuras gerações. A complexidade desse trabalho é que ele envolve recursos substanciais, tanto financeiros quanto humanos, além de um tempo considerável para que a preservação seja realizada de forma adequada e meticulosa.
A aquisição de novos acervos que são relevantes para contar a história do povo cearense passa por etapas que também envolvem critérios técnicos. A política de acervos vigente no MIS buscou dar conta do acervo constituído ao longo dos últimos quarenta e quatro anos e deve ser revisada em 2025.
Nessa política de acervo, estão previstos fluxos de procedimentos técnicos para aquisições que levam em conta questões como a relevância e a conservação do acervo, bem como a definição do espaço mais adequado para salvaguardá-lo. De março a agosto de 2024, a equipe do Acervo e Conservação do MIS realizou um total de 19.220 ações de salvaguarda, que incluem digitalização e catalogação de livros e filmes, entre outras medidas.
Filmes e Discos de Vinil: A restauração de filmes, por exemplo, requer um trabalho extremamente minucioso que é feito quadro a quadro. Alguns exemplos de filmes recentemente restaurados pelo MIS são o documentário “Chico da Silva”, do diretor Pedro Jorge de Castro; “Reis do Cariri” de Oswald Barroso e “Jangadas-de-ir-e-vir” de Marcus Valle.
Outra etapa importante a ser realizada é a digitalização dos discos de vinil, que também demandará um processo altamente detalhado e demorado. Cada LP requer entre 45 e 60 minutos para ser digitalizado sem pós-processamento, e até duas horas quando o áudio é submetido a um processo de limpeza digital para remover ruídos e imperfeições. Este trabalho requer equipamentos especializados e software adequado, além da experiência de profissionais capacitados e de um planejamento rigoroso que leve em consideração a preservação da qualidade do áudio original.
Além disso, manter o acervo físico, além da digitalização, também é essencial. Isso se dá por várias razões que vão além da simples preservação do conteúdo cultural. O acervo físico representa a materialidade original dos discos de vinil, que inclui o conteúdo sonoro, a capa, o design gráfico, as notas, e até as características físicas do próprio disco, como as marcas de prensagem e sinais de desgaste. Estes elementos são parte integral da autenticidade e da história cultural que o acervo representa.
Os discos de vinil e seus componentes físicos são artefatos históricos que refletem a tecnologia, o design e as práticas culturais de sua época. Preservar esses objetos permite que as futuras gerações tenham acesso a esses aspectos tangíveis do passado, o que é crucial para estudos históricos, estéticos e culturais. A interação com o acervo físico proporciona uma experiência sensorial única que a digitalização não pode replicar. O ato de manusear o vinil, observar seus detalhes e ouvir o som característico de um disco sendo tocado são experiências que conectam o público de forma mais profunda e emocional com o material original.
Vale ressaltar, ainda, que os processos acima elencados são realizados item por item. Demandam tempo, recursos, pesquisa e equipes. A coleção Humberto Teixeira, por exemplo, começou a ser tratada em 2022, e seus mais de 7,7 mil itens ainda passam por processos de digitalização e acondicionamento, fora os procedimentos que permitiram que parte dela tenha sido exposta na Exposição Quando o Sertão ganhou o mar.
Desafios do acervo: Manter o acervo físico também é importante para a preservação das tecnologias e técnicas analógicas associadas à produção e reprodução de música em vinil. Isso inclui não apenas os discos em si, mas também os equipamentos e conhecimentos necessários para reproduzi-los adequadamente. Embora a digitalização seja uma excelente ferramenta de preservação e acessibilidade, é preciso considerar que ela não é infalível. Problemas técnicos, obsolescência de formatos digitais e perda de dados são riscos que podem comprometer de forma significativa o acesso futuro ao conteúdo. Manter o acervo físico serve como uma salvaguarda contra esses riscos, garantindo que o material original permaneça disponível.
Diante dessas demandas, é crucial que o MIS CE concentre esforços na conclusão do projeto de recuperação do acervo atual. Para garantir a eficácia das ações museológicas e a continuidade do legado cultural que o MIS CE representa, é fundamental que a instituição finalize com êxito o projeto em curso, consolidando as bases para futuras expansões de forma sustentável e planejada.