Missivas ao novo prefeito. Por F J Caminha

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Evandro Leitão, prefeito de Fortaleza. Foto: Divulgação

Conta-se que no dia da passagem de comando da prefeitura o prefeito que transferia o cargo entregou pessoalmente ao novo gestor três bilhetes numerados e recomendou que ele só abrisse em caso de crises, um por vez a cada ano de dificuldades.
O primeiro deveria ser aberto logo na primeira crise da gestão, o outro no segundo ano de gestão o terceiro se as duas recomendações contidas neles não funcionassem.

O novo prefeito por educação colocou as cartas numa gaveta e esqueceu completamente o fato. Logo sobreveio uma crise com uma greve de professores e agentes de saúde. Foi quando o chefe do executivo lembrou dos bilhetes. Por curiosidade abriu o número 1 e estava escrito assim:

“Vença essa primeira crise colocando toda a culpa em mim. Diga que recebeu a prefeitura quebrada e endividada. Afirme para o povo e funcionários que eu deixei uma herança maldita e peça paciência a população que fará uma grande administração. Prometa conseguir recursos e dá prioridade a educação e a saúde”.

E assim fez o gestor, logo publicando nas redes sociais, nos blogs e na imprensa as acusações ao antecessor.

Passado quase dois anos da gestão, uma nova crise surgiu e mais forte. Já tinha vereadores de oposição espalhando “fakenews”, denúncias no Ministério Público e insatisfações da população quanto taxa do lixo, a saúde, a limpeza pública e a pavimentação. Para piorar o inverno foi forte e teve alagamentos.

Aí, o prefeito lembrou da segunda carta . Depois de procurá-la muito, achou e abriu. Assim estava escrito:

“Como a primeira medida não funcionou, coloque agora a culpa no seu secretariado e no governo federal. Avise para o povo que fará uma grande reforma administrativa, diga que vai trazer pessoas de alta qualificação técnica para assumir os cargos e faça acordos para votar no candidato que mais prometer recursos para o município. Diga que a crise nacional foi culpada também e boa sorte”.

Já no ultimo ano da gestão surge uma nova crise. O prefeito estava mal avaliado, os vereadores já estavam silenciosamente conspirando, detonando às escondidas o gestor e o povo insatisfeito, apesar de todos os esforços da gestão municipal.

Foi quando, ele lembrou do terceiro e último bilhete. Pensou em não abrir e rasgá-lo. Mas, a curiosidade foi maior e decidiu ler. Assim estava escrito:

“Amigo se você abriu esse último é porque as duas medidas anteriores não deram resultados. Agora faça assim:

ESCREVE TRÊS BILHETES IGUAIS A ESSES PARA SEU SUCESSOR.

Quem sabe que não serei também o próximo a receber”.

Francisco Caminha é escritor, advogado, especialista em Ciência Política e servidor público. Foto: Divulgação

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