A política brasileira parece ter se transformado num grande duelo de gladiadores, onde os extremos se enfrentam com lanças afiadas e ouvidos tapados. De um lado, os que defendem um liberalismo econômico com foco na liberdade de mercado e na autonomia individual. Do outro, os que sonham com um Estado inchado, onipotente, controlador. E no meio desse embate estéril, está o povo. Esquecido. Exaurido. Saturado de promessas e carente de soluções reais.
É nesse meio, muitas vezes desdenhado, taxado de morno ou indeciso, que pode residir a única saída possível: o centro como ponto de equilíbrio, como espaço de escuta, de conciliação, de construção efetiva de caminhos. Não se trata de uma neutralidade covarde, mas de uma coragem serena e estratégica: a de buscar o que funciona, e não o que apenas grita mais alto.
Em suas versões radicais, direita e esquerda acabam por se parecer mais do que gostariam de admitir. A direita, sobretudo em suas vertentes liberais ou neoliberais, tende a confiar no mercado como motor da economia. Defende menor intervenção estatal, menos burocracia e liberdade ampla para a iniciativa privada. Acredita que a prosperidade nasce do mérito individual e da concorrência. Essa visão, quando bem aplicada, pode gerar crescimento econômico, inovação, aumento da eficiência e geração de empregos. No entanto, em contextos onde a realidade social é profundamente desigual, essa lógica precisa ser acompanhada de políticas que assegurem inclusão e proteção mínima, para que o crescimento não se converta em exclusão.
Já a esquerda parte da crítica a essa desigualdade. Enxerga o mercado como excludente e priorizador do lucro acima da vida. Propõe uma atuação intensa do Estado, com políticas públicas robustas, redistribuição de renda, proteção social e, em casos mais radicais, o controle direto de setores estratégicos. O problema é que, quando essa atuação se transforma em gigantismo estatal, o risco é sufocar a economia, inibir a iniciativa privada e criar um ambiente viciado em dependência e aparelhamento.
Ambas, cada qual à sua maneira, quando extremadas, ignoram que o Brasil é uma nação complexa, atravessada por desigualdades históricas, por vocações regionais distintas e por uma população que não cabe nos manuais ideológicos. A vida real exige soluções reais e isso inclui conciliar crescimento com justiça, liberdade com proteção, mercado com humanidade.
É nesse ponto que o centro político, tantas vezes desqualificado por parecer tosco, pode representar não apenas uma alternativa viável, mas uma urgência nacional. O centro não é ausência de ideias. É uma escolha difícil. Exige maturidade, equilíbrio, disposição para o diálogo e coragem para contrariar fanatismos.
Um projeto de centro de verdade sabe valorizar o dinamismo do mercado, mas também sabe que nenhuma economia se sustenta ignorando seus próprios pobres. Sabe que a iniciativa privada é motor de riqueza, mas que o Estado é referência de justiça. Sabe que responsabilidade fiscal não pode ser desculpa para cortar direitos, assim como políticas sociais não podem servir de cortina para a incompetência.
No centro, a democracia respira. Porque ali há espaço para escutar. Para ajustar. Para ponderar. Para corrigir sem destruir. Para avançar sem atropelar.
O Brasil precisa menos de guerra ideológica e mais de soluções que façam sentido. O povo quer dignidade, e não discursos inflamados. Quer saúde, educação, segurança, mobilidade, oportunidades. Quer menos promessas e mais decência. E talvez, para alcançar tudo isso, tenhamos que descer dos palanques dos extremos e caminhar, com firmeza e humildade, pelo centro.
Porque o futuro do Brasil não será salvo por quem grita mais forte, mas por quem constrói com mais sabedoria.
E então cabe a pergunta inevitável: quem seria capaz de conduzir o país por esse caminho do meio? Alguém que una firmeza e serenidade, sensibilidade e senso prático, coragem para contrariar os extremos e humildade para escutar o que o povo de fato precisa. Um líder com visão, mas sem vaidade excessiva. Com autoridade, mas sem autoritarismo. Que saiba negociar sem se vender, reformar sem destruir, proteger sem sufocar. Que fale pouco e faça muito. Que inspire pelo exemplo, não pela propaganda.
Talvez ainda não saibamos quem. Mas sabemos exatamente o que ele ou ela deveria ser.
O Brasil não precisa de heróis de capa ideológica. Precisa de alguém que ouse calar os gritos dos extremos e falar com a voz da razão. Porque governar não é vencer inimigos imaginários. É encarar a realidade que todos evitam.