O Nordeste brasileiro é, há décadas, vítima de um sistema de distribuição de renda que se revela não apenas injusto, mas deliberadamente mantido por interesses políticos e econômicos. A desigualdade que castiga milhões de nordestinos não é acidente da história, nem consequência inevitável da geografia. É uma escolha estrutural, cuidadosamente cultivada por oligarquias regionais e pelo Estado central.
Com cerca de 27% da população nacional, o Nordeste responde por menos de 15% do PIB brasileiro. Essa distorção se traduz em realidades cruéis: as piores rendas domiciliares per capita, os maiores índices de analfabetismo, insegurança alimentar e mortalidade infantil. Estados como Maranhão, Piauí, Alagoas e Ceará ocupam, ano após ano, as últimas posições no ranking da dignidade social.
Mas o problema não é só a escassez, é a distribuição. Grandes fortunas, propriedades concentradas, repasses bilionários da União que se perdem no labirinto de licitações duvidosas, cargos comissionados, ONGs fantasmas e publicidade institucional. A elite política do Nordeste aprendeu a jogar o jogo: mantém o povo pobre, dependente e fiel nas urnas. Com a outra mão, negocia em Brasília a manutenção do seu próprio poder, financiado por uma máquina pública que serve muito mais a si mesma do que ao cidadão comum.
Programas como Bolsa Família, Auxílio Gás e Benefício de Prestação Continuada são necessários, mas não suficientes. A cada eleição, viram vitrine de campanha. Distribuem o mínimo para manter o máximo intocado. Promovem alívio, mas não libertação. Quem depende para comer não tem como exigir educação de qualidade, saúde eficiente ou transparência nas contas públicas. A miséria serve ao poder.
Pior ainda: as gestões locais, muitas delas vendidas como “progressistas”, sustentam essa engrenagem com discursos sedutores e uma propaganda massiva que mascara a estagnação estrutural. Fazem do mínimo, máximo. Inauguram escolas sem professores, hospitais sem insumos, creches sem merenda. A revolução é sempre anunciada, mas nunca vivida.
O Nordeste tem riqueza. Tem povo trabalhador, sol generoso, energia eólica, solos férteis, cultura viva. O que falta é justiça no acesso aos frutos dessa terra. Falta romper a aliança entre elites locais e governos federais que usam o Nordeste como moeda de troca. Falta honestidade intelectual e coragem política.
Chega de migalhas. O Nordeste não precisa de favores. Precisa de investimento real, de políticas que descentralizem o desenvolvimento, de escolas que libertem e de uma população que deixe de ser massa de manobra e se torne sujeito da própria história.
Enquanto a distribuição de renda for um instrumento de controle político, o Nordeste continuará pobre. E a pobreza continuará lucrativa para os que vivem dela.
