“O tempo revela todas as coisas.” (Sêneca)
Em março de 2020, quando o mundo se curvava diante de um vírus desconhecido, um artigo publicado na respeitada Nature Medicine cravava, com estardalhaço, que o SARS-CoV-2 “não foi construído em laboratório nem manipulado propositalmente”. A sentença veio com a força de um dogma — e serviu como escudo para censurar qualquer menção à hipótese de que o novo coronavírus poderia ter escapado de um centro de pesquisa em Wuhan. O nome do artigo: The Proximal Origin of SARS-CoV-2. O nome do principal orquestrador: Dr. Anthony Fauci.
Não sou médico. Tampouco cientista. Escrevo tendo como fonte dados oficiais e documentos públicos. As conclusões aqui relatadas não são fruto de achismos ou teorias conspiratórias — baseiam-se em relatórios e e-mails revelados por uma subcomissão do Congresso dos Estados Unidos, criada já durante o governo Joe Biden, e que teve acesso a comunicações internas entre os principais envolvidos nesse episódio que, a meu ver, envergonha a ciência.
O tempo, que tudo revela, mostrou que o texto publicado como ciência não passou de um libelo encomendado para encobrir verdades incômodas. E-mails tornados públicos por meio da Lei de Liberdade de Informação (FOIA) demonstram, de forma inequívoca, que o próprio Fauci — ao lado de Francis Collins (ex-diretor do NIH) e Jeremy Farrar (Wellcome Trust) — conduziu pessoalmente reuniões com os autores do artigo para moldar sua narrativa final.
No dia 31 de janeiro de 2020, o virologista Kristian Andersen escreveu a Fauci um alerta preocupante: “Algumas características do vírus parecem engenheiradas. O genoma não se encaixa com as expectativas da teoria evolutiva”. No dia seguinte, uma teleconferência emergencial foi organizada com os principais virologistas do mundo. Nela, discutiu-se abertamente a possibilidade de o vírus ter escapado de um laboratório. No entanto, apenas quatro dias depois, os mesmos cientistas já apresentavam a primeira versão do artigo que viria a sepultar — de forma artificial e apressada — a hipótese do vazamento.
Em 17 de março, o artigo foi publicado. A mudança de tom foi brutal. Trechos cautelosos como “não é possível determinar com certeza a origem do vírus” foram substituídos por afirmações categóricas de origem natural. O que provocou tal reviravolta? Os e-mails revelam a resposta: pressão direta das autoridades. Collins chega a escrever, em abril, que era necessário “abafar essa conspiração destrutiva” — referindo-se à investigação da origem laboratorial.
Anthony Fauci, então aclamado pela mídia como o “rosto da ciência”, usou esse artigo como escudo. Em entrevistas e audiências, citou a publicação como se fosse a palavra final sobre o tema — ocultando de todos que ele mesmo havia orientado sua redação. O debate não poderia ter sido encerrado tão cedo, e ainda hoje não se sabe onde a verdade se esconde.
E mais: a trama não foi desvendada por opositores marginais, mas por uma subcomissão oficial do Congresso norte-americano — em pleno governo democrata. Foi essa comissão que obteve e divulgou os e-mails comprometedores, revelando que os autores do artigo, em sua maioria, não apenas consideravam plausível a hipótese do laboratório, como chegaram a defendê-la antes de cederem ao alinhamento político imposto pelos bastidores do poder científico. Os resultados preliminares dessa investigação foram inclusive publicados no site oficial da Casa Branca, dando visibilidade institucional ao debate.
Estamos diante de uma orquestração intelectual, científica e moral. Mais do que nunca, espera-se da ciência a paciência para investigar, a prudência para ponderar e a coragem para reconhecer o que ainda não se sabe. Não é papel do verdadeiro cientista apressar-se em certezas; é seu dever deixar que os estudos amadureçam até que as evidências falem por si. Enquanto o mundo clamava por transparência, o debate foi sufocado prematuramente — e talvez, com ele, parte da verdade tenha se perdido.
Talvez ela ainda venha à tona. Por ora, resta a realidade nua e crua: o vírus matou milhões, mas a precipitação e o fechamento apressado do debate podem ter matado a confiança. E essa ferida, nenhum remédio será capaz de curar.
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