“A vida é um dom. O que fazemos com ela pode ser crime ou virtude — mas tirá-la antes do nascimento é negar até a possibilidade da escolha.”
(G.K. Chesterton)
O aborto no Brasil é permitido apenas em três situações: risco à vida da gestante, gravidez por estupro ou feto anencéfalo. Fora dessas hipóteses, é crime previsto no Código Penal. Tramita na Câmara Federal o PL 2832/2024, que propõe o aumento das penas para o aborto sem consentimento e para casos de estupro com aborto subsequente — uma iniciativa louvável que busca restaurar o respeito à vida onde hoje impera a banalização da morte.
Uma frase emblemática foi dita por Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos e líder republicano: “Só é a favor do aborto quem já nasceu.” A frase provoca uma reflexão inevitável. E, diante dela, é preciso se posicionar. Qualifico o ato como um homicídio disfarçado — e a vítima é sempre o mais desarmado: o ser que sequer chegou a respirar fora do ventre. Não pode gritar, correr, se esconder. É o tipo mais abjeto de violência, pois seu alvo é um inocente absoluto.
Frequentemente o debate é sequestrado por ideologias e dogmas de toda ordem. Crenças pessoais e convicções apaixonadas são lançadas como pedras, de lado a lado. Mas o que está em jogo é maior que isso: é o direito de existir. Esvaziemos por um instante esses filtros e encaremos o drama pelo viés da razão. Imagine-se no ventre de sua mãe — e, de repente, uma substância letal ou um objeto cortante destrói sua existência em formação. A visão é perturbadora.
A ciência é clara: a vida tem início na fecundação. Isso não é dogma nem metáfora — é fato biológico. O código genético está completo. Existe ali um ser humano em estágio inicial. Abortar, portanto, é interromper uma vida. É um crime contra o mais frágil.
No Brasil, as mulheres mais pobres recorrem a procedimentos clandestinos — mutilações bárbaras conduzidas por carrascos que usam foices metálicas para dilacerar o feto dentro do útero. Muitas vezes, além da dor moral, essas mulheres enfrentam consequências físicas irreversíveis. O próprio Ministério da Saúde já chegou a registrar mais de 200 mil internações por complicações decorrentes de abortos mal realizados. É um número assustador. E muitas mulheres, ainda jovens, morrem em decorrência desse cenário brutal — vítimas não só de um sistema que fracassou, mas também de um discurso que mascara o horror com a palavra “direito”.
A mulher que aborta pode carregar sequelas para o resto da vida. O corpo cicatriza, mas a alma guarda a marca do que foi feito. E o silêncio do filho que não nasceu ecoa para sempre. Porque não há anestesia que cale um grito que nunca pôde ser dado. Ninguém atravessa esse suplício sem deixar uma parte de si para trás.
As Escrituras alertam: “Antes que te formasse no ventre, te conheci; e, antes que saísses da madre, te santifiquei” (Jeremias 1:5). A Bíblia reconhece o valor da vida mesmo antes do nascimento — e a filosofia que preserva a dignidade humana deve fazer o mesmo. Ainda assim, cresce a pressão para sua legalização ampla — como se matar o indefeso fosse sinal de progresso.
Legalizar o aborto não é avanço — é rendição moral. Quando o Estado chancela esta matança, não temos civilização — temos barbárie disfarçada de direito. E a quem repete a esdrúxula frase “meu corpo, minhas regras”, respondo: o corpo não é só seu quando abriga outra vida. Essa regra é homicida — vil noite que não amanhece.
