Por que importa: O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está em missão oficial aos Estados Unidos para apresentar o Plano Nacional de Data Centers, com foco em atrair investimentos bilionários para infraestrutura digital. O Ceará — e especialmente Fortaleza — precisa estar no centro dessa estratégia.
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📍 Fortaleza: onde o Brasil se conecta ao mundo
Fortaleza é mais que uma cidade estratégica: é a principal porta de entrada de dados da América do Sul. A Praia do Futuro abriga diversas estações de cabos submarinos, com conexões diretas para Estados Unidos, Europa e África. Essa geografia privilegiada já deu origem a um ecossistema local de data centers e deve ser tratada como ativo nacional de soberania digital.
Infraestrutura já existente:
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Big Lobster (V.tal): totalmente integrado aos cabos submarinos da Praia do Futuro, com conectividade redundante e rede neutra.
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AngoNAP (Angola Cables): parte do sistema SACS, conectando Fortaleza a Luanda e Miami.
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Ascenty: com conexão própria aos cabos internacionais.
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Mais de 17 cabos submarinos convergem para Fortaleza, tornando-a um hub latino-americano de tráfego de dados.
🧭 O que é o Plano Nacional de Data Centers
Apelidado de Redata, o novo regime prevê:
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Desoneração total (PIS/Cofins/IPI) para bens de capital em data centers;
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Contrapartidas obrigatórias:
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Energia 100% renovável;
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Alta eficiência energética e hídrica;
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Oferta de 10% da capacidade ao mercado nacional (ou 5% em caso de doação);
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Contribuição de 2% da receita ao FNDIT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico).
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📌 Estimativa de impacto:
Até R$ 2 trilhões em investimentos privados ao longo de 10 anos.
⚠️ O que está em jogo para o Ceará
Apesar da posição privilegiada, o Ceará corre o risco de ficar à margem do novo ciclo de investimentos, caso não alinhe sua política industrial ao Redata.
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ZPEs (Zonas de Processamento de Exportação): Estados como Ceará (Pecém) e Piauí (Parnaíba) apostaram na instalação de data centers dentro das ZPEs.
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O novo plano federal desestimula esse modelo e propõe que data centers operem fora de zonas francas, para não ficarem restritos à exportação.
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O governo estuda mecanismos de transição para não penalizar os projetos já iniciados.
Atenção redobrada:
O esforço do Ceará para atrair data centers deve agora ser recalibrado para não se tornar inócuo diante do novo regime federal. O modelo Redata será mais vantajoso que o das ZPEs — e pode esvaziar incentivos estaduais se não houver articulação.
🎯 O que o Governo do Ceará pode (e deve) fazer agora
1. Posicionar Fortaleza como polo prioritário do Redata:
A estrutura já existente e a posição geográfica tornam a capital cearense ideal para receber os primeiros mega data centers verdes do país.
2. Negociar adaptações no regime das ZPEs:
Evitar prejuízos aos projetos já instalados e garantir competitividade local frente aos novos incentivos federais.
3. Articular junto ao MDIC e BNDES o uso direcionado do FNDIT:
Fortaleza abriga universidades, parques tecnológicos e institutos de pesquisa que podem ser beneficiados com os recursos do fundo. O Ceará precisa garantir protagonismo nesse canal.
4. Usar o marketing geopolítico:
Poucas capitais brasileiras podem argumentar que oferecem redundância internacional de dados com baixa latência, energia limpa e mão de obra qualificada como Fortaleza.
📊 O que Haddad leva aos EUA
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Apresentação formal do Plano Redata;
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Reuniões com Amazon, Nvidia e Google;
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Oferta de café com 40 líderes do setor tech (via Amcham);
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Proposta de desonerar infraestrutura crítica e promover transformação ecológica via digitalização.
📍 Objetivo explícito: posicionar o Brasil como alternativa limpa, segura e soberana na corrida global por poder computacional.
🧠 O que pensar disso tudo
Atrair uma montadora chinesa gera manchetes. Mas atrair um mega data center de IA movido a energia solar, com infraestrutura local, soberania digital e estímulo à pesquisa científica, pode valer muito mais no longo prazo.
O momento é de virada estratégica. E o Ceará, se agir com inteligência, pode ocupar o centro do tabuleiro — não a borda.