
O PL apertou o freio. O apoio à candidatura de Ciro Gomes (PSDB) ao governo do Ceará , costurado com aval de Jair Bolsonaro e referendado por Valdemar Costa Neto, foi oficialmente colocado em “pausa”. E por tempo indeterminado. O movimento vem depois de Michelle Bolsonaro transformar um desconforto interno em um problema real para o comando nacional do partido. No fim das contas, a esposa do líder bolsonarista é a grande vitoriosa.
A decisão saiu após uma reunião tensa em Brasília com todo o núcleo duro da sigla: Valdemar, Michelle, Rogério Marinho, Flávio Bolsonaro e André Fernandes.
Da crítica ao freio de mão
No fim de semana, Michelle atacou publicamente a possibilidade de o PL apoiar Ciro. O gesto expôs fissuras internas, irritou a cúpula — que já havia dado o aval ao acordo — e criou um ruído que ninguém no partido conseguiu ignorar.
Internamente, a avaliação é simples: Michelle falou o que parte da base pensa, mas disse no volume errado, na hora errada e no único assunto capaz de produzir crise — o Ceará, hoje a principal aposta estratégica da direita para romper a hegemonia do grupo de Camilo Santana e dos Ferreira Gomes.
A resposta do comando
A nota divulgada pelo PL é precisa:
A estratégia no Ceará só será definida após análise e aprovação da cúpula nacional, com as propostas que serão apresentadas por André Fernandes.
Tradução política:
O partido reabsorve o controle da operação, esvazia temporariamente as negociações com o PSDB e sinaliza que nada está garantido — nem o apoio a Ciro, nem a articulação de Fernandes.
E o recado implícito: Michelle foi ouvida. Ganhou uma primeira queda de braço. Eduardo Girão pode até se beneficiar na hora de compor alianças.
O esforço pela unidade
Flávio Bolsonaro fez o papel de bombeiro. Falou em “ruído de comunicação”, disse que Michelle “falou com o coração” e garantiu que não existe briga na família. Garantiu também que está “tudo resolvido”.
Duas coisas pesam:
- Michelle não recuou. Não falou com a imprensa após a reunião. Não desdisse o que disse. E ainda voltou a criticar Ciro na madrugada.
- O Ceará virou um campo de disputa de narrativas dentro do PL. A ala pragmática quer fechar com Ciro para tentar derrotar a esquerda local. A ala ideológica rejeita qualquer composição que soe como contradição com o discurso moralizante do bolsonarismo.
O que André Fernandes ainda ganhou após perder
Fernandes, presidente do PL no Ceará, saiu do encontro com pelo menos duas coisas:
- A bênção para continuar liderando as negociações.
- E a obrigação de apresentar um plano B — com outras alternativas de candidatura, alianças e rotas de crescimento da direita no estado.
O “pause” anunciado nada mais é do que isso: reorganizar o jogo. E onde isso deixa Ciro Gomes? A articulação que colocava Ciro como beneficiário da aliança com o PL ,inédita, controversa e pragmática, está suspensa. Ciro perde velocidade, perde clima e deixa de surfar no apoio da maior força política da direita brasileira.
Michelle, com um gesto público, conseguiu o que adversários de Ciro dentro do PL não haviam obtido: travou a negociação.
O que realmente está em disputa
O Ceará é, eleitoralmente, mais simbólico do que estratégico:
- É o único reduto histórico dos Ferreira Gomes.
- É o estado onde Camilo Santana construiu um capital político gigante.
- É o espaço onde a direita cearense tenta consolidar influência desde 2022 — sem romper, de fato, o domínio do grupo adversário.
Para o bolsonarismo, apoiar Ciro seria um “mal necessário” com potencial de vitória. Para Michelle, uma contradição inaceitável. O PL agora tenta sobreviver entre essas duas leituras.
Conclusão — O xadrez reaberto. A crise expôs o que a cúpula tentava disfarçar: Michelle é hoje a figura com maior poder de mobilização da base do PL — e qualquer movimento no Ceará passa por ela.
A estratégia volta para a prancheta. O apoio a Ciro está suspenso, mas não morto. E o partido, pressionado por dentro e por fora, precisa apresentar um nome ou uma fórmula que una pragmatismo eleitoral e pureza ideológica — o dilema permanente do bolsonarismo.






