Para quem já vinha acompanhando o curso dos acontecimentos, não havia motivo algum para surpresa quando Cid Gomes deu sinais de uma decisão formada por seu afastamento do governo Elmano, caso confirmada a indicação de Fernando Santana, do PT, para a presidência da Alece.
Pelo que veio à superfície dos fatos, a escolha se deu sem consulta prévia ao senador do PSB, o que teve o peso de uma gota d’água no seu limite de tolerância e fê-lo optar por um gesto de aparência intempestiva, mas provavelmente calculado (porque Cid faz ninho onde moram as águias).
É fato, havia uma acumulação de queixas mútuas num ciclo de tensões que teve início quando o deputado Evandro Leitão se desfilou do PDT num momento em que Cid Gomes ainda urgia manobras difíceis para assegurar às bancadas federal e estadual do partido o direito de continuar apoiando o governo de Elmano em discrepância dissidente com a orientação que tentava impor a direção partidária de então.
Algumas dessas rusgas foram manifestas e outras apenas murmuradas nos circuitos internos. Todas, contudo, pareciam sepultadas sob o mastro da vitória de Evandro em Fortaleza e o sentimento condescendente que elas, as vitórias, costumam despertar no caudal das oportunidades, ampliadas, de compartilhamento que oferecem.
Se foi rápida a recomposição da aliança entre Elmano e Cid é porque, nesse caso, qualquer acordo ainda seria melhor do que uma boa briga. E para ambos: nem Elmano acumulou força popular suficiente para dispensar aliados do calibre do senador no biênio de largada para sua reeleição, nem Cid teria força para arrastar para fora da aliança (nem tivera essa pretensão) a bancada de deputados e prefeitos que têm seguido até aqui sua orientação segura e pragmática.
Havia, por sorte, um nome capaz de representar uma solução sem acentuado recuo das partes: o deputado Romeu Aldigueri, agora indicado no lugar antes anunciado para Fernando Santana, é membro do mesmo bloco partidário de Cid e é, também, o líder do governador Elmano na Alece – um personagem isonômico, que deu a ambos, Elmano e Cid, a possibilidade de construir, no desfecho da breve crise, um discurso afirmativo da força política de cada um. Ambos estão contemplados e la nave va.
Daí que o desapontamento foi transferido para a oposição, que já vislumbrava no episódio a gênese de uma derrocada na aliança governista que, como todas as alianças amplas demais, está constantemente desafiada a conciliar interesses e não contrariar em demasia a autoestima de ninguém.
Prego batido e ponta virada, uma nova agenda de negociação já sobe à mesa: a domesticação dos egos na taba dos caciques que pretendem ocupar vaga na chapa eleitoral de 2026 ao lado do governador Elmano. Mas isso é assunto para outro artigo. E não pretendo escrevê-lo antes do próximo carnaval. Boas festas, portanto.