Roubo no INSS: a falência da vigilância pública; Por Gera Teixeira

COMPARTILHE A NOTÍCIA

A CPMI do INSS não revela apenas um rombo bilionário. Expõe a falência da vigilância pública e a fragilidade das instituições. O que deveria ser política de crédito transformou-se em armadilha, onde aposentados e pensionistas foram presas fáceis de um sistema que associou sindicatos, associações, empresas e bancos.

As fraudes não são fruto de lapsos ocasionais. São o resultado de décadas de conivência. Governos sucessivos fecharam os olhos. A omissão deliberada permitiu que práticas ilícitas se consolidassem como rotina. O Estado brasileiro preferiu não ver e entregou a maior autarquia do país à voracidade do crime organizado.

A engrenagem é sofisticada. Empréstimos consignados e descontos associativos se multiplicaram sem transparência e muitas vezes sem autorização válida. Bilhões de reais foram drenados diretamente do bolso de quem já havia entregado uma vida inteira de trabalho. Mais grave que o desfalque financeiro é o desfalque moral. A confiança da sociedade foi rompida.

O aposentado, que acreditava no Estado como garantidor, descobre-se vítima do mesmo Estado que deveria protegê-lo. A Previdência, concebida como muralha de segurança, foi saqueada por dentro. O pacto social que sustenta a República sofreu um golpe duro e profundo.

O relator da CPMI foi preciso ao afirmar que o país entregou o INSS ao crime. Não é retórica. É a constatação de que a corrupção não é exceção, mas engrenagem. Uma engrenagem alimentada pela vulnerabilidade dos mais frágeis, sustentada pelo silêncio cúmplice e pela indiferença política.

Investigar e punir é necessário, mas não basta. É urgente desmontar a lógica permissiva que enraizou o INSS. Sem mecanismos de integridade, sem fiscalização independente, qualquer reforma será apenas cosmética. O desafio é resgatar a ideia de que a República existe para proteger os cidadãos.

A CPMI, ao dar voz às vítimas e expor os mecanismos ocultos do saque, representa uma chance rara de recompor a confiança social. Não se trata apenas de recuperar valores, mas de reafirmar princípios. A Previdência não pode ser tratada como cofre disponível ao oportunismo político e empresarial. É preciso restaurar a noção de que o patrimônio público é intocável, e que o Estado existe, antes de tudo, para resguardar a dignidade dos que já entregaram sua vida ao trabalho.

Se o Estado não protege quem já deu sua vida ao trabalho, a quem mais poderá proteger? Essa é a pergunta que ecoa no coração da sociedade e que a CPMI precisa ajudar a responder.

Gera Teixeira é empresário ítalo-brasileiro com atuação nos setores de construção civil e engenharia de telecomunicações. Graduado em Marketing, com formação executiva pela Fundação Dom Cabral e curso em Inovação pela Wharton School (EUA). Atualmente cursa Pós-graduação em Psicanálise e Contemporaneidade pela PUC. Atuou como jornalista colaborador em veículos de grande circulação no Ceará. Integrou o Comites Italiano Nordeste, órgão representativo vinculado ao Ministério das Relações Exteriores da Itália. Tem participação ativa no associativismo empresarial e sindical.

COMPARTILHE A NOTÍCIA

PUBLICIDADE

Confira Também

A articulação global da China que tem o Ceará como eixo estratégico; Por Fábio Campos

Pesquisa: Disputa pelo Senado expõe força de Cid Gomes, RC resiliente e a fragilidade do bolsonarismo quando dividido

Aprovação sólida mantém Elmano favorito a mais de um ano da eleição

Brasil tem 37,8% de trabalhadores informais; Saiba o tamanho da formalidade e da informalidade no Ceará

Com Camilo ao lado, Lula transforma aniversário de 95 anos do MEC em ato político

Bolsonaro antecipa o jogo e aposta em Tarcísio para 2026

A polêmica anunciada no entorno do Aeroporto Pinto Martins

A derrota da aberração: quando a política encontra seus limites

Lula e Trump em rota de conciliação (ou será colisão?); Por Fábio Campos

Em Nova York, TikTok e Lula dão passo decisivo para mega datacenter de R$ 50 bi no Ceará; Elmano e Camilo na mesa

Ciristas, ouçam Ciro: facções são caso federal

PEC da Blindagem ou PEC da Bandidagem?

MAIS LIDAS DO DIA

No data was found