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Saiba quem são os marqueteiros da guerra de guerrilhas que marcará a disputa de Fortaleza

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Por Fábio Campos

A hecatombe conhecida como Lava-Jato (patacoada de juiz não redime malfeitor e não elimina crime cometido, que se diga) retirou dos profissionais dedicados ao marketing político o status de representação terrena das divindades capazes de operar, digamos, milagres. Passar o gato por lebre e  a raposa por altruísta abnegada, por exemplo.

Alguns destes profissionais, que a espirituosidade da crônica política batizou de marqueteiro, foram tragados pela avalanche de denúncias que incluíam caixa dois e outros delitos de maior envergadura. De certa forma, caíram em desgraça tanto os personagens quanto o próprio ofício. Mas, o tempo tratou de superar essas questões e a política é pragmática.

O Brasil é o País da eleição a cada dois anos, quando a política vai em busca dos eleitores. E é preciso encontrar a maneira mais eficiente de chegar à mente desses milhões (com e sem trocadilho). O eleitor já não é mais encontrado e alcançado da maneira tradicional que marcou as campanhas políticas por décadas: rádio, TV, propaganda nas ruas ou contato direto.

Hoje, mais do que nunca, o império a se desvendar e conquistar chama-se WEB. É o planeta internet, repleto de mundos e submundos, no qual vivem e sobrevivem os eleitores, o alimento da política. É nessa superfície, lotada de nichos, cavidades e cavernas, que os eleitores se escondem e também se expõem. Sim, eles estão lá (quem está lendo este texto também está) com suas vidas pessoais, familiares, financeiras e profissionais.

Portanto, para alcançar este público e entender seus quereres, a política entende que é preciso a mediação dos marqueteiros e de outros profissionais auxiliares que, até um dia desses nem sequer existiam. Sim, os marqueteiros são apontados como os únicos capazes de se esgueirar em meio à peculiar diversidade que povoa a internet. Não é à toa que tais entes já se elevam novamente no firmamento da nossa política.

Nenhuma descrição de foto disponível.A seguir, o Focus apresenta um perfil de cada um dos marqueteiros dos cinco políticos (por ordem alfabética) que devem disputar as eleições de Fortaleza, a sofrida loura desposada do sol. Sofrida demais. Muitas vezes, maltratada. Todavia, assim como a Geni de Chico Buarque, a bela (a depender do ângulo) loura também tem seus caprichos. A História política da cidade que o diga.

André Fernandes (Partido Liberal)
Autodeclarado de direita, franco atirador que quase nada tem a perder na campanha, o jovem de apenas 26 anos, portanto membro da geração Z, é o único dos candidatos que se enquadra na caracterização de nativo digital, os crescidos no saturado ambiente da tecnologia digital e com natural familiaridade com as ferramentas relacionadas à internet. Tanto que o trampolim de Fernandes para a política foram seus vídeos populares no Youtube. O bolsonarista tem amplo domínio das redes sociais, terra de todos e de ninguém, mas sua trajetória agora será testada também na formalidade do horário eleitoral de rádio e TV.

O argentino Pablo Nobel tem vasta experiência: de peronistas a Javier Milei. De petistas a bolsonaristas.

O  marqueteiro de André Fernandes será o argentino Pablo Nobel. A contratação foi anunciada pelo próprio pré-candidato, que tratou o profissional como uma chancela do governador Tarcísio de Freitas (São Paulo) e do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Nobel tem um vasto currículo no ramo e já passeou tanto por candidaturas de direita quanto de esquerda. O publicitário está no Brasil há cerca de 40 anos e já trabalhou em parceria com marqueteiros como João Santana, responsável por diversas campanhas do PT e a última de Ciro Gomes.

Na Argentina, trabalhou para os peronistas Alberto Fernández, em 2019, e Daniel Scioli, em 2015. No Brasil, em 2014,  atuou na campanha de Aécio Neves à Presidência da República. Em 2018, integrou a AM4, agência que coordenou a campanha digital de Jair Bolsonaro. A seguir, em 2022, conduziu o marketing de Tarcísio de Freitas. Na sequência, em 2023, compôs a equipe vitoriosa de Javier Milei, o singular presidente da Argentina.

Por último, mas não menos importante: até abril passado, Pablo Nobel estava sob contrato da campanha de Tábata do Amaral (PSB) à Prefeitura de São Paulo. No entanto, a relação foi desfeita. Um texto do Estadão explica: Nobel e sua equipe entendiam que em uma eleição polarizada seria preciso criticar tanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que se aliou com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), como Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que apoia Guilherme Boulos (PSOL), para atrair votos dos dois lados. Segundo relatos, Tabata resistia a fazer críticas a Lula.

Diante disso, fica a questão: Será que Pablo Nobel vai prescrever essa receita para o bolsonarista raíz André Fernandes?

Capitão Wagner (União Brasil)
Wagner Sousa Gomes, aos 45 anos, é um veterano em disputas majoritárias. Disputou as duas últimas eleições (2016 e 2020) para prefeito de Fortaleza, levando ambas para o segundo turno. Chegou em segundo lugar na disputa pelo Governo do Ceará em 2022, vencida por Elmano de Freitas (PT) no primeiro turno. O pré-candidato ainda está estruturando suas alianças, mas seu partido já lhe permite um razoável tempo no rádio e na TV, muito embora a guerra de guerrilhas que deve marcar a campanha vá se dar principalmente no campo desregulado das redes sociais.

Grôppo: O resultado de uma eleição não é definido por ao menos quatro elementos preditivos de voto: conjuntura, imagem, recursos e comunicação.

A julgar pelos números das pesquisas até aqui, cuja liderança folgada é de Wagner, os incautos podem imaginar que o marqueteiro terá vida fácil. Não é bem assim. O marqueteiro do Capitão vai ter a árdua tarefa de fazer uma campanha cujos conteúdos e ações consigam se equilibrar entre a direita e a esquerda, sem largar nem uma e nem a outra.

Tarefa complexa em ambiente polarizado. A missão caberá ao baiano Leandro Grôppo, que carrega os troféus pelas duas vitórias de Romeu Zema (Novo) para o Governo de Minas Gerais em 2018 e 2022.

Grôppo é CEO da Strattegy, empresa de consultoria em Comunicação. Em seu currículo, uma especalização “em Comunicação e Marketing Político, com aperfeiçoamento pela The Graduate School of Political Management (George Washington University), pós-graduado em Gestão Pública pela Escola Nacional de Administração Pública, mestre pela UnB e mestrado em comunicação e sociedade pela UFU”. Grôppo diz que foi assessor na Presidência da República (não indica de qual presidente) e que “participa há mais de 20 anos nos níveis estratégicos de campanhas eleitorais e planejamento de mandatos”.

Em artigo, Grôppo argumenta que, em eleição, não existem surpresas, existem surpreendidos: “A tarefa de investigar os desejos do eleitor e entender seus anseios não é trivial e, por isso, não deve ser entregue a amadores”.

Em trecho de outro artigo, o marqueteiro aborda a questão que pode ser (ou não) chave na disputa pela Prefeitura, a polarização: “Em 2022, parcela significativa dos brasileiros se mostrou cansada da polarização extrema. Pesquisas demonstravam que cerca de um quarto do eleitorado não queria nem Lula e nem Bolsonaro presidente. Mas qual era o contexto por trás do número? Apesar do desejo de “nem um nem outro”, a rejeição, contra um e contra outro, era maior que o significado ofertado pelos demais candidatos. Resultado: o terceiro colocado no primeiro turno teve apenas 4% dos votos. “Parecia” que muitos queriam a quebra da polarização, porém, 92% dos eleitores que foram votar escolheram um dos dois principais candidatos”.

Eduardo Girão (Novo)
Próximo de completar 52 anos, o concorrente azarão das eleições para o Senado em 2018 chega novamente a uma disputa majoritária correndo por fora da raia e vai entrar na campanha de Fortaleza tentando reproduzir a sua histórica vitória que atropelou a candidatura do então presidente do Senado, Eunício Oliveira. Até aqui, a pauta mais relevante de Girão como senador se relaciona aos costumes, uma linha que terá de ser substituída por falas sobre o cotidiano de uma metrópole repleta de problemas. O seu tempo na TV e rádio é ínfimo e, certamente, as redes sociais serão seus principais instrumentos de divulgação da candidatura.

Com seu cliente com tempo na TV e rádio apenas o suficiente para dizer “meu nome é Girão”, Marcel Pinheiro vai jogar suas fichas numa área que conhece bem: as redes sociais.

O fortalezense Luís Eduardo Grangeiro Girão, que teve a presidência do Fortaleza Esporte Clube como a vitrine para torná-lo conhecido do eleitorado, será o único dos concorrentes com chances reais a optar por profissionais cearenses. No caso, o publicitário Marcel Pinheiro. Ex-sócio na agência Delantero, o profissional foi um dos responsáveis pelo marketing político de Girão na campanha de senador em 2018. Naquele momento, ao lado do ex-sócio Pádua Sampaio (hoje, proprietário da agência Temprano e articulista deste Focus).

Além de conduzir sua própria agência de publicidade, a Timoneiro, Marcel é diretor de marketing do Fortaleza Esporte Clube. Sua indicação para a campanha a prefeito de Girão foi também por conta de suas relações com o empresário Geraldo Luciano, ex-diretor do Grupo Dias Branco e hoje um influente consultor de empresas.

A experiência de Marcel como marqueteiro vai além da última campanha para senador de seis anos atrás. Nas três campanhas em que o Capitão Wagner disputou a Prefeitura (duas vezes) e o Governo (em 2022), Marcel foi um dos responsáveis pelo marketing político. Também em 2022, ao lado de Pádua, o publicitário chegou a trabalhar na pré-campanha de Sérgio Moro para presidente até o momento em que o ex-juíz decidiu sair da disputa, voltar ao Paraná e concorrer ao Senado.

Pode-se dizer que Girão é o menos pressionado entre todos os concorentes. Entra na disputa com uma única grande obrigação política: manter a dignidade na campanha e, se não obtiver sucesso, deixar seu nome com mais substância para a eleição seguinte de senador, em 2026.

Evandro Leitão (PT)
Santo novo no terreiro petista, Evandro Sá Barreto Leitão, aos 57 anos, vai enfrentr a sua primeira eleição para chefe de Executivo. Numa caminhada cujo início mantém alguma similaridade com o de Eduardo Girão, Evandro deu dimensão pública ao seu nome quando presidiu o Ceará Sporting. Na sequência, ocupou cargos de secretário no Governo Cid Gomes até que conseguiu eleger-se deputado estadual. Bom articulador, com perfil político moderado (ninguém chega à presidência da Assembleia sem tais características), Evandro vai entrar na campanha com a maior aliança e com quase a metade de todo o tempo e inserções que os candidatos vão ter no rádio e na TV. Portanto, são as condições ideais para o trabalho dos marqueteiros.

Print de imagem do Instagram: Cury disse à reportagem do Focus que é “reservada” e prefere não divulgar imagens pessoais.

O marketing de campanha de Evandro Leitão vai ficar sob a responsabilidade da publicitária Karla Cury, uma profissional já bastante conhecida das disputas eleitorais do Ceará. Oriunda de São Paulo, Carla chegou aqui pelas mãos de Duda Mendonça para trabalhar a comunicação da gestão de Luizianne Lins em Fortaleza. A primeira campanha na qual exerceu papel de comando foi a de Elmano de Freitas, em 2012. Foi um teste dificilimo: fazer o marketing de um candidato desconhecido, sem trajetória administrativa de relevo e historicamente ligado ao MST.

Na sequência, Carla fez as vitoriosas campanhas de Camilo Santana, em 2018, para o Governo e para o Senado (2022). Por último, a de Elmano de Freitas, seu velho conhecido, para o Governo do Ceará. Já atuou na área de marketing de diferentes campanhas políticas, atendendo a candidatos a exemplo de Antonio Palocci, Benedita da Silva, Mercadante, Lula, entre outras. Também já fez campanha para partidos em posições ideológicas diferentes daquelas do PT.

Possivelmente, a campanha vai reciclar o conhecido refrão Fortaleza algumas vezes mais forte. Evandro preside a Assembleia, tem o apoio de Lula, de Elmano, de Camilo e de uma dezena de partidos. A cada momento e de acordo com as circunstâncias, os padrinhos serão usados na propaganda como carro chefe do marketing posto em prpática por Cury.

Muito embora circule socialmente em Fortaleza há uma década e meia, Kury se mantém discreta. Praticamente não há imagens suas mais recentes nas redes sociais.

José Sarto (PDT)
O prefeito parte para a tentativa de reeleição com fortes desafios diante de uma gestão muitas vezes vacilante, dois anos iniciais com respostas administrativas vagas e uma insistente má avaliação popular revelada por diversas e seguidas pesquisas. Mas, prefeito é prefeito. Conduz a máquina e tem uma maioria sólida na Câmara de Vereadores. As mesmas pesquisas que apontam a alta reprovação de Sarto também dizem que o prefeito entra na disputa com um bom índice de intenção de voto que gira em torno dos 20%. Trata-se de um índice nada desprezível.

Renato Pereira, o marqueteiro de Sarto. Experiente, busca mudar a imagem envelhecida do prefeito.

José Sarto é um candidato que vai precisar de um trabalho de marketing muitíssimo eficiente. Nos últimos dias, o distinto público e a crônica política viram uma mudança radical na maneira como o prefeito tem apinhado as redes sociais com peças que mostram que o seu marketing político tenta mostar um perfil jovem e descolado do prefeito de 65 anos e com carreira política que começou em tempos pré-internet.

A responsabilidade pela campanha do prefeito é um veterano de campanhas políticas e institucionais no Brasil, Renato Pereira.

Depois do maremoto da Lava-Jato, Renato Pereira reemergiu na cena do marketing político brasileiro fazendo a campanha de Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, em 2020. Antes, já havia trabalhado com Sérgio Cabral e Eduardo Paes. Experiente e com correta leitura da conjuntura, Pereira já dizia em 2020 que mesmo uma derrota de Bolsonaro em 2022 não sepultaria o bolsonarismo. Dito e acontecido.
Diante disso, fica a pergunta, se Fortaleza polarizar, como fica a situação do prefeito Sarto?
Levar Sarto ao segundo turno e à vitória não será tarefa fácil. A antiga composição que o elegeu numa apertada vitória contra o Capitão, em 2020, se esfarelou. A nova aliança em torno de Sarto não é pródiga em conceder tempo no rádio e na TV (sozinho, o PSD aliado de Elmano tem mais tempo que a aliança PDT-PSDB em torno do prefeito). Portanto, entupir as redes sociais de anúncios pagos visando atingir os diversos públicos parece ser a arma do momento a ser levada também para a fase mais dura da campanha.

 

 

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