Quanta saudade sinto das noites de São João!
Minha infância foi emoldurada por festas juninas. Eu pulava fogueira, soltava fogos, chuveirinhos, traques, bombinhas rasga latas, rabos de saia e estrelinhas. Ainda sinto o cheiro e o sabor do aluá, do quentão, da canjica, do mungunzá, do pé-de-moleque, do bolo de milho e do próprio milho assado na brasa ou cozido na água fervente.
Sinto saudade das superstições da fogueira que o adulto culto exorcizou e das mandingas, entre elas a simpatia do anel para saber quando a moça ia casar. Saudade dos balões no ar, das quadrilhas, das músicas de Luís Gonzaga e da menina linda que fez meu coração saltitar. Saudade da presença de meu pai ao fabricar uma caixa de madeira para colocar os fogos dentro. Saudade do céu estrelado, de observar a dança das labaredas, de alimentar o fogo e de sair correndo com uma tocha na mão.
Hoje quero correr para contemplar o céu do sertão, a lua cheia e soltar o balão da esperança por um mundo mais justo. Desejo receber, também, o abraço da criança inocente que acreditava em disco voador e que tinha medo de almas.
Foi essa criança pura que ficou esquecida na linha do tempo que me alimentou para eu ser o que sou hoje. Nas noites de São João dá vontade de ser criança outra vez e fazer as mandingas para que tenhamos um mundo melhor.