Ser jovem em uma democracia; Por Paulo Elpídio de Menezes Neto

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Imagem produzida por IA representa o momento dramático em que o jovem Brutus assassina Júlio César, em uma cena clássica no Senado Romano.

Na juventude e na beleza, a sabedoria é escassa, Homero

Algumas estatísticas soltas indicam que as lideranças políticas envelheceram, em todo o mundo, menos nas democracias.

Consultei alguns etaristas, como eu, dominados pela vontade de avaliar esta novidade e descobrir no que os jovens se diferenciam dos velhos — na política.

Antes de prosseguir, valha algum esclarecimento sobre o novo conceito de idade, aos olhos dos especialistas na apreciação desses confrontos geracionais.

As pessoas envelhecem segundo o destino que lhes foi autorizado. Cada um de nós traz impresso no DNA familiar a sua matrícula original, desde que Adão sentiu o calor daquele forno primitivo, utilizado pelo Criador para dourar a sua criação. Neste mister complexo, alguns deles, dobrados os 70 anos, tornam-se “etaristas” especialistas ou curiosos, vá lá, das complicações trazidas para a sociedade por pessoas envelhecidas acima do tolerável. A velhice, afinal, não passa, na cultura pós-moderna, de excesso pernicioso de vida, uma gastança desenfreada de recursos coletivos para a sobrevivência de privilegiados.

O etarismo, como ciência, técnica ou controle social deixou o que lhe daria lugar de destaque na antropologia social (já os franceses preferem usar o conceito “etnografia”) para transformar-se em ação pública legal com o propósito de limitar o “direito à vida”.

“Não há nenhum direito absoluto, nem o direito à vida”, afirmou o ministro da Justiça Lewandovski, retomando ideias que remontam à explosão totalitária na Europa nos anos 1900.

Não sei em que posição poderei entrar neste jogo, provavelmente em situação prudente, na reserva dos astros nomeados, sentado no “banco” de espera…

Pois bem, puxei conversa com alguns anciãos que pareciam indicar terem, ainda, alguns neurônios ligados, para saber se isso poderia ser visto como uma boa notícia — os jovens na política.

Na democracia, cresce mais a categoria militante de líderes jovens do que nos sistemas políticos autoritários, informam as estatísticas de algumas pesquisas reveladoras. É verdade que vozes discrepantes levantaram argumentos ponderáveis contra esse tipo de abordagem metodológica. Alguns pesquisadores mais perspicazes no seu ativismo, demonstraram, no entanto, o seu desagrado com a designação reconhecidamente “neocapitalista”, queixavam-se.

A matemática e as ciências aplicadas, de um modo geral, não escapam a uma grave suspeita, nos nichos dos intelectuais orgânicos da esquerda, sobre as intenções que dissimulam. Não se usam números para avaliações sociológicas e econômicas, sentenciam alguns “politicólogos”, como os franceses chamam os “cientistas políticos”, made in France.

A idade serve, entretanto, no mundo civilizado, como indicador e indulgência para situações bem especificas. Criou-se o mito da juventude como símbolo de renovação, de coragem e altruísmo. Dos jovens foi dito encarnarem os impulsos da verdade, como anunciadores do futuro.

Seriam os jovens mais radicais do que os velhos, seus pais, mães e avós? Ou os velhos, caturras, presos a ideias e conceitos por tanto tempo cultivados, não conseguiam libertar-se das lealdades longínquas ao velho catecismo marxista? A semântica, para quem ainda não percebeu o ritmo dos códigos que são usados, tem uma enorme capacidade de desconstruir palavras e conceitos e de dar-lhes novos conteúdos e significação. Para muitos “jovens” basta mudar o sentido das palavras-chave e dos conceitos para que a realidade seja “alterada” e um novo futuro comece a ser desenhado.

Em que medida uma democracia de jovens poderia ser mais eficiente e mobilizadora do que uma democracia de idosos, presos a outras raizes ideológicas e às suas fidelidades caídas em exercício findo? Conselhos de anciãos ou ginásio de efebos militantes?

Ser jovem, hoje, não é a mesma coisa de ter sido jovem no entre-guerras, no alvorecer dos totalitarismos que contaminaram os jovens, precisamente. As esquerdas e direitas têm na juventude o seu arrimo, o radicalismo e a fidelidade dos convertidos. A adesão radical dos que carecem de paciência não pode esperar. Não são os conceitos, tampouco as ideias que importam verdadeiramente. Mas a capacidade de intervenção no processo político e o controle dos mecanismos do poder do Estado.

Goebbels referia-se a Alfred Rosenberg, o filósofo oficial do nazismo, o “intelectual influencer” do III Reich, serviçal de Hitler, tratando-o como o “arroto ideológico”. Disputas à parte e o orgulho ferido não predispunham, entretanto, os contendores a firmarem um acordo de convivência respeitosa. Pertenciam a gerações diferentes e a formatos ideológicos opostos, Rosemberg e Goebbels, para ouvirem e tolerarem-se um ao outro…

Na República Democrática da Alemanha — RDA — a Alemanha Bolchevique, Oriental, segundo registros recuperados da STASI, após a queda do Muro de Berlim, investigações recentes entre os cidadãos do lugar, demonstraram que os filhos, os jovens rebentos de estremecida afeição, eram informantes matriculados sobre as ideias e o comportamento dos pais na intimidade familiar… E os pais puseram-se, a serviço do Estado policial, a informar sobre as atitudes dos filhos e da parentela agregada às autoridades competentes.

No Brasil, a escola pública e a particular, com a omissão dos seus donos, passaram a servir como espaço patriótico de adestramento ideológico dos jovens. Foi assim durante o Estado Novo, com o currículo escolar adaptado às circunstâncias, e, nos anos 1964, com disciplinas pedagogicamente direcionadas para a formação dos cidadãos — “Educação Moral e Cívica”, “Estudos de Problemas Brasileiros” e Organização Social e Política Brasileira”. Hoje, a mídia divulga generosamente a “filosofia política” “queer” e demonstra, com rigor pedagógico, a amplitude dos direitos civis e as opções de gênero como conquistas “democráticas””.

Na Califórnia, estudantes e docentes lacraram as Universidades mais tradicionais e tornaram-nas redutos inexpugnáveis de resistência à liberdade acadêmica e científica, a exemplo do que ocorrera em 1968 em Berkeley.

Desde maio de 1968, a Universidade francesa não dá sinais vitais de recuperação das vicissitudes ideológicas pelas quais foi dominada, a de um profundo mergulho no marxismo histórico do qual não retornou 56 anos transcorridos. Se bem podemos nos lembrar, uma das bandeiras do movimento estudantil dessa época, consistia em uma projeto ambicioso: LA FIN DE L’UNIVERSITÉ”…

A mídia, tomada de assalto, por militantes jovens, abandonaram as ideias mais circunspectas e ampliaram o trato com grupos “woke” e a afirmação das suas afinidades ideológicas.

Não são poucas as evidências desse radicalismo “jovem” que se apropria patrioticamente da nossa liberdade, das nossas simples cogitações, do hábito de pensar, enfim, e da nossa vontade.

Quanto aos velhos, dominados por formas “afirmativas” de totalitarismo, não passam de jovens congelados pelos mesmos cacoetes juvenis de outros tempos…

Paulo Elpídio de Menezes Neto é articulista do Focus, cientista político, membro da Academia Brasileira de Educação (Rio de Janeiro), ex-reitor da UFC, ex-secretário nacional da Educação superior do MEC, ex-secretário de Educação do Ceará.

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