
O fato: Com menos de um mês de mandato, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem causado desconforto internacional ao adotar medidas protecionistas e declarações controversas. Entre as ações, estão novas tarifas para produtos importados de China, México e Canadá, atingindo setores como aço e alumínio. Além disso, ameaças diretas foram feitas contra os países do Brics, alertando sobre possíveis sanções caso optem por transações comerciais em moedas próprias, em vez do dólar.
A retórica agressiva de Trump vai além da economia. O presidente chegou a sugerir o controle da Groenlândia, território autônomo da Dinamarca, e do Canal do Panamá. Também defendeu a anexação do Canadá como um estado norte-americano. No cenário geopolítico, retirou os EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (UNHRC), desafiando o multilateralismo.
Gaza e o isolamento internacional: As tensões aumentaram ainda mais com as declarações de Trump sobre a Faixa de Gaza. O presidente afirmou que pretende controlar a região devastada por bombardeios israelenses e expulsar os palestinos para países vizinhos, como Egito e Jordânia. A proposta gerou forte reação internacional, levando a relatora especial da UNHRC, Francesca Albanese, a sugerir que a comunidade internacional isole os Estados Unidos.
Apesar da posição dominante na economia e no setor militar, especialistas alertam que nenhum país é totalmente autossuficiente. O professor Evandro Carvalho, da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que a interdependência econômica global limita a capacidade dos EUA de se manterem isolados. “Na medida em que Trump adota essa postura pouco diplomática, ele pode gerar uma reação das nações afetadas”, explica.
Reações da União Europeia e impactos comerciais: As novas tarifas impostas por Trump também geraram resposta da União Europeia. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, criticou a medida e prometeu adotar ações para proteger os interesses dos países do bloco.
“Lamento profundamente a decisão dos EUA de impor tarifas nas exportações de aço e alumínio europeus. A União Europeia agirá para salvaguardar seus interesses econômicos”, declarou von der Leyen.
Para a pesquisadora Ana Garcia, do Brics Policy Center, os Estados Unidos ainda exercem um papel central no comércio global, o que dificulta um isolamento completo. “Os EUA são o epicentro das cadeias de produção. Nenhum país ou bloco pode isolá-los facilmente, a menos que haja um movimento conjunto, o que é improvável”, avalia.
O Brasil diante do cenário global: O Brasil, que nos últimos anos passou a ter a China como principal parceiro comercial, pode encontrar oportunidades em meio às disputas. Para Pedro Dallari, professor da Universidade de São Paulo (USP), as medidas protecionistas dos EUA reforçam a necessidade de diversificação de parceiros comerciais.
“No que se refere às medidas econômicas, o Brasil deve agir com pragmatismo. Um passo importante seria consolidar o acordo entre Mercosul e União Europeia”, destaca Dallari.
O Brics também pode representar um caminho estratégico. Evandro Carvalho vê potencial no fortalecimento do comércio entre Brasil, Índia, Rússia, África do Sul e os novos membros do bloco, como Egito e Emirados Árabes Unidos. “Há uma imensa oportunidade na cúpula do Brics no Brasil para discutir novas relações comerciais. É preciso identificar vantagens competitivas além da dependência da China”, afirma.
Ana Garcia ressalta que o Brasil ainda mantém um comércio limitado com os países do Brics e alerta para a necessidade de diversificação. “O mundo ideal seria expandir as relações comerciais para além dos EUA e da China, incluindo Europa e outras economias emergentes. Fortalecer parcerias na América Latina e África poderia trazer mais equilíbrio ao comércio exterior brasileiro”, conclui.