O Brasil no mundo. Por Rui Martinho

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Rui Martinho é professor da UFC, advogado, bacharel em administração, mestre em sociologia e doutor em história. Com 6 livros publicados e vários artigos acadêmicos na área de história, educação e política. Assina coluna semanal no Focus.jor.

É problemático psicologizar a análise política, pois o reducionismo espreita em tal caminho, negligenciando estruturas sociais, econômicas, jurídicas e políticas. Podemos, todavia, utilizar categorias da psicologia, quando mais não seja, como metáfora, mormente quando a Filosofia é a fonte das considerações sobre a psykhé, desde que os demais aspectos não sejam afastados. Martin Heidegger (1889 – 1976) analisou a dimensão ôntica (manifestação de um ente em si mesmo) e ontológica (as possibilidades do ser como objeto de conhecimento) e avançou na reflexão sobre o ser-no-mundo, situado além dos aspectos naturais ou ideias, naquilo que representa um mundo de possibilidades. Metaforicamente podemos pensar o Brasil como um ser-no-mundo, sem que para tanto seja preciso aderirmos ao existencialismo.

O Brasil muitas vezes é lembrado na dimensão ôntica. Recursos naturais, território e a grandeza da população são aspectos da dimensão aludida. A sociedade e o Estado elaboram significados e valores ou a compreensão deles, tal como pessoas. Temos uma economia grande; ainda nos resta um parque industrial cujas dimensões são consideráveis; solo agricultável, sol e água em abundância, favorecendo a produção de alimentos em condições vantajosas em face dos nossos competidores.

A economia rural convida a indústria a produzir insumos, dando oportunidade principalmente aos setores metalomecânico e químico. Também gera divisas necessárias à importação de componentes usados na indústria, além de favorecer a formação de capital para investimentos diversos, assim como o café capitalizou São Paulo e contribuiu para a industrialização daquele Estado. Somos autossuficientes em alimentos e quase autossuficientes em energia.

A definição de uma nova ordem mundial, sem o sentido de uma forma específica de poder supranacional (diversamente do proposto pelo Collegium Internacional, na obra “O mundo não tem mais tempo a perder”) enseja a barganha em face das grandes potências, seguindo o exemplo do presidente Vargas (1882 – 1954) por ocasião da II Guerra Mundial. A nova guerra fria, mais perigosa que a anterior, após o fim da pax americana, torna importante, para os grandes protagonistas da geopolítica, estabelecer relações de cooperação e até alianças.

O Brasil, como grande fornecedor de alimento e minérios, oportunidades de investimentos e um relativo potencial de influência diplomática na América do Sul não será negligenciado pela diplomacia dos grandes competidores. Não se trata apenas de uma siderúrgica como volta redonda, mas de cooperação científica e tecnológica inclusive na área. Vargas obteve grande fornecimento de armas.

As nossas crises têm origem nos nossos problemas, mas tornam-se agudas por fatores externos, como em 1929 e 2008. Existem entraves ao desenvolvimento e oportunidades. Resíduos e derivações (Vilfredo Pareto, 1848 – 1923) da herança ibérica e da influência atávica medieval, a exemplo do patrimonialismo e do preconceito contra o lucro, são obstáculos. Macunaíma (Mário de Andrade, 1893 – 1945), irresponsável e desorganizado, é tolerante, enseja algo semelhante ao pacto de Moncloa (Espanha, 1977). Não tivemos ruptura, não iniciamos um novo regime, mas podemos aproveitar o espírito daquele pacto, abandonando velhos conflitos pela construção do futuro. As reformas tributária e administrativa são indispensáveis, mas não avançaram sem um pacto entre as forças políticas. Na ausência de um acordo o cesarismo, ao modo de um consulado romano, que era transitório, ou de algo mais grave estará presente.

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