
Em abril, com ótima margem de aprovação, Camilo Santana renunciará ao governo. Irá entregar a caneta para sua vice, Izolda Cela, e se candidatar ao senado. Em outubro, já saberemos quem será seu sucessor. Há dois nomes postados, como é sabido: na situação,Roberto Cláudio; na oposição, Capitão Wagner.
A princípio, faço um cálculo básico para reconhecer o favoritismo do ex-prefeito de Fortaleza: como o deputado federal poderia vencê-lo no Ceará inteiro – o que requer recursos e estrutura – se não conseguiu vencer, dentro de sua Fortaleza, o desconhecido José Sarto? Quem não pode menos, não pode mais…
Dito assim, sugere que a sucessão será um passeio, mas há dificuldades decorrentes do entorno conjuntural, sob efeito das exigências estratégicas da sucessão presidencial e da ambigüidade política do atual governador que, como um minotauro, tem o corpo no PT e a cabeça no grupo dos Ferreira Gomes. Ou vice-versa, sei lá.
Está correta, a posição da deputada Luizianne Lins em tentar assegurar um palanque para a candidatura presidencial de Lula da Silva num estado onde ele desponta na liderança das pesquisas – o que somente uma candidatura a governador pode oferecer com completa materialidade.
Poder-se-ia pensar em um modelo mais heterodoxo, se o grupo que apoia Camilo Santana e governará o Ceará durante a campanha com Izolda Cela não tivesse um candidato presidencial postado, Ciro Gomes – com um agravante: ele já disse que não subiria num palanque de Lula no segundo turno nem mesmo contra Bolsonaro, a quem acusa de fascista. O clima é ruim.
Não é esta, a única barreira na estrada aparentemente pavimentada de Roberto Cláudio ao governo. A emperrada gestão do seu aliado José Sarto à frente da prefeitura da capital retira oxigênio de suas pretensões precisamente ali onde está seu pé de apoio para o salto projetado. É uma bota de chumbo.
E tem o fator Eunício Oliveira. O almirante do MDB, aliado declarado de Lula, “é um pote até aqui de mágoas”, à espera de sorver o prato frio da vingança ao se julgar traído por Ciro Gomes e Roberto Cláudio na sua derrotada campanha para o senado. Em uma conjuntura apertada de disputa, um gesto seu pode provocar estragos (me poupo de exemplificar).
Ao fim, restaria o plano B de reposicionar o senador Cid Gomes como o candidato do governo, considerando seu patrimônio eleitoral. Mas também essa não é uma solução líquida: sua postulação reforçaria a ideia de uma hegemonia familiar que já sofre forte contestação – haja visto que, pela pragmática indicação das pesquisas eleitorais, se viu obrigado a mergulhar durante a campanha de José Sarto à prefeitura da capital.
A isso tudo resume o refrão da baladinha pop: “de repente, as coisas mudam de lugar / e quem perdeu, pode ganhar”. Capitão Wagner, Luizianne Lins e Eunício Oliveira, cada um com seu cada qual, contam com isso. Se Lula não abortar os planos de Luizianne, o bicho vai pegar.