O Dezembro Vermelho, campanha voltada para a sensibilização sobre o HIV/AIDS, nos instiga a ponderar sobre a trajetória no combate a essa epidemia no Brasil. No cerne dessa luta, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem se destacado como um propulsor de progressos notáveis. Desde a adoção de políticas para o fornecimento gratuito de antirretrovirais nos anos 90, o país enfrenta a epidemia com dedicação louvável. Porém, os dados expõem um enredo complexo, entrelaçado por desigualdades sociais e econômicas profundas.
Desde o começo da epidemia, foram registrados mais de 900.000 casos de AIDS no Brasil. Apesar das disparidades acentuadas, o país se destaca na batalha contra o HIV/AIDS, sendo um dos pioneiros na disponibilização gratuita da terapia antirretroviral (TARV) para todos os indivíduos com HIV. Em 2021, cerca 694 mil pessoas estavam em TARV (81% dos diagnosticados).
Inicialmente, foram destinados US$ 2,7 milhões para a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), adquirindo 3,6 milhões de pílulas em 2018, representando um esforço preventivo. No entanto, o combate ao HIV/AIDS vai além de números e investimentos, expondo desigualdades sociais e econômicas. Dados recentes do Ministério da Saúde apontam queda de 25,5% na taxa de mortalidade por AIDS na última década.
Porém, em 2022, 62,8% dos casos reportados ocorreram entre pessoas negras (13% pretas e 49,8% pardas), em comparação a 29,9% entre brancos. Esta diferença é observada também entre gêneros, com 62,4% dos casos em homens negros e 64,1% em mulheres negras. Isso sublinha a importância de considerar os fatores sociais para uma resposta eficaz ao vírus e à doença.
A condição das grávidas é também alarmante. Em 2022, a maioria dos casos de grávidas com HIV era de mulheres pardas (52,1%), seguidas de brancas (28,5%) e pretas (14%). É essencial que essas grávidas tenham acesso à TARV e mantenham suas cargas virais indetectáveis na hora do parto para prevenir a transmissão vertical do vírus. Apesar de um alto índice de acompanhamento pré-natal, em 2022, somente 66,8% das grávidas em pré-natal relataram o uso da terapia, mostrando um grande déficit na prevenção da transmissão vertical.
Outro ponto a observar é a distribuição da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que também mostra desigualdade racial. A PrEP é mais utilizada pela população branca (55,6%), em comparação com indivíduos pardos (31,4%) e pretos (12,6%). Essa diferença aponta para a necessidade de políticas públicas mais inclusivas para assegurar o acesso justo a todos os grupos populacionais. Em resposta, o Ministério da Saúde ampliou o número de usuários de PrEP, com um aumento de 45% em relação ao ano anterior.
O Brasil enfrenta o desafio constante de equilibrar progressos na medicina com a necessidade de combater as desigualdades sociais e raciais. As políticas públicas precisam ser ajustadas para atingir todos os estratos da população, assegurando que os progressos no tratamento e prevenção do HIV/AIDS estejam disponíveis para todos. A batalha contra o HIV/AIDS no Brasil é uma trajetória de sucesso contínuo, mas também de desafios duradouros que requerem um compromisso renovado com a equidade e a inclusão.