Por Pádua Sampaio, de Nova Iorque – Especial para o Focus
Mesmo quem não acompanha basquete já deve ter ouvido falar em um certo “Magic Johnson”, ex-jogador americano que chamou a atenção do mundo inteiro quando descobriu que contraiu o vírus HIV no início dos anos noventa. Mais de trinta anos depois, doença sob controle, tabus superados e uma multidão apinhada e ansiosa para ouvi-lo falar sobre esporte, disciplina e empreendedorismo. Inclusive eu. Assim foi a abertura do segundo dia da NRF, a maior feira de varejo (que hoje vai muito além do varejo) do mundo, em Nova Iorque.
Magic Johnson, ídolo do Los Angeles Lakers e uma lenda viva do basquete, também é empresário e virou sócio de um time de futebol americano, o Washington Commanders.
Tendo vivido a competitividade das quadras e dos escritórios, quebrou protocolos na sua apresentação, interagiu com a plateia e fez paralelos importantes entre o mundo corporativo e o esportivo, dentre os quais destaco três pontos, tal como ele fazia na quadra:
1) Valorização dos seus concorrentes: seja no esporte ou na vida profissional, um bom concorrente nos faz melhores, nos obriga a estar sempre em movimento. Magic Johnson confessou que o incomodava bastante ver um atleta da mesma posição que ele fazendo mil arremessos por dia para aperfeiçoar a técnica. Isso o obrigava a ir à quadra e fazer não apenas mais, mas melhor do que seu oponente também.
2) Não adianta mudar um time sem mudar a mentalidade. E mentalidade se muda com cultura, disciplina e esforço. É isso que ele tem feito no seu time, o Commanders. Trocou os executivos, mas antes se assegurou de que essas novas pessoas tinham as mesmas crenças e que “correriam ao lado” dele. Ao líder caberá sempre indicar que caminho seguir e por que seguir.
3) Magic Johnson também estimulou a plateia a pensar a sua vida em várias dimensões. Como? Ouvindo pessoas mais experientes, que ele chama de mentores. Além de estabelecer metas individuais de até 3 anos (não mais do que isso) também propôs que cada um de nós fizesse um SWOT pessoal, tal como se costuma fazer para empresas. Quais são as minhas forças? Fraquezas? Que oportunidades estão ao meu alcance? Que ameaças podem surgir? Um exercício bem interessante, aliás. Mas nem só de mensagem motivacional vive o homem na NRF. São muitas palestras simultâneas, sobre temas diversos, mas está mais do que claro que a conquista do consumidor pelas marcas passa pela propaganda, que ocupa um lugar central em várias dessas discussões. Afinal, o que adianta ter o melhor produto se o consumidor não souber disso?
Jonathan Lustig, da Walgreens Advertising Group, e Ryan Mayward, do Walmart, trouxeram um olhar interessante sobre a publicidade in-store, ou seja, dentro das lojas de varejo, em uma perspectiva de que cada varejista é potencialmente um meio de divulgação de marcas e produtos para os clientes que já estão no espaço físico.
Nesse contexto, se somam outras estratégias para fechar a cadeia na jornada de consumo. Como exemplo, novamente mencionam-se os “partnerships”, que vêm dando origem a diversas associações entre varejistas e players diversos, mais ligados ao mundo do entretenimento. Aposto que muitas dessas você nem conhecia: Best Buy + Roku, Amazon + Snapchat, Lowes + Pinterest, Walmart + TikTok e várias outras.
O streaming e redes sociais adquirem papel central, como forma de as marcas estarem presentes mas sem serem chatas, invasivas. Aí você pensa: “opa, então é preciso ter loja física para vender mais. É preciso investir muito para que meu negócio ganhe escala.” Mais ou menos, porque o case da Kyle Leahy, CEO da Glossier, uma marca de produtos de beleza, vai na direção contrária. Não há lojas físicas, mas “pop-up lojas”, ou seja, o ponto de venda da Glossier está montado dentro de outra varejista, além claro, de estar fortemente presente nos canais digitais. O segredo, segundo Kyle, é descobrir o que o consumidor precisa e se antecipar nessa entrega. No caso dela, até aqui ter um local próprio não foi determinante para o crescimento da marca.
São diversas perspectivas em dezenas de painéis. Não há e não haverá fórmula pronta. A contribuição de um evento como esse é justamente essa grande salada de conceitos, experiências, vivências e ideias. O que deu muito certo em uma empresa não necessariamente funcionará em outra companhia. Mas certamente vale a pena ouvir todas essas histórias para a partir de então você criar a sua história. E quem sabe um dia compartilhar para o mundo também.
Tem cearense na maior feira de varejo do mundo, a NRF, em NY