
Donald Trump voltará à Casa Branca. O fato é que o novo presidente eleito tem um pensamento conservador com relação à economia. Deverá adotar um modelo mais calcado no protecionismo – uma de suas bandeiras à época de candidato. Ele quer a volta do modelo “Make America Great Again”. Mas como vai de fato se comportar? Será mais “garganta” do que ação efetiva? Um gesto para animar apenas seu eleitorado? Difícil prever.
Mas o que é fácil observar é como a economia cearense está atrelada à estadunidense. De acordo com relatório Relações Comerciais com os Estados Unidos, elaborado pela Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiec, a ligação entre Ceará e EUA segue uma trajetória consolidada e estratégica em 2024, embora o cenário atual na terra do Tio Sam esteja marcado pela incerteza econômica e pela volatilidade típica de um ano eleitoral.
“As eleições presidenciais americanas trazem uma expectativa de mudanças nas políticas comerciais e monetárias que, aliadas ao controle da inflação e à política de juros elevados do Federal Reserve, criam um ambiente de cautela para os parceiros comerciais dos EUA, incluindo o Brasil e o Ceará”, destaca um trecho do documento.
O peso no mercado
Sim, os Estados Unidos são o maior mercado exportador dos itens produzidos em nosso Estado, correspondendo a mais de 35% de tudo o que o Ceará envia para fora. Os destaques são os setores tradicionais como ferro e aço, peixes e crustáceos, e calçados. Até setembro, o Ceará acumulou US$ 420,31 milhões em exportações para o país.
No entanto, o cenário de 2024 tem mostrado desafios específicos para o setor exportador cearense, refletidos em atrasos de registro e variações de demanda, afetando as exportações de alto valor agregado, especialmente ferro e aço. As flutuações têm sido intensificadas pela pressão do dólar forte, que beneficia as exportações brasileiras ao reduzir os custos para importadores americanos, mas também aumenta os custos das importações, impactando a balança comercial cearense.
No lado das importações, os Estados Unidos continuam sendo uma fonte vital de produtos para o Ceará, particularmente em combustíveis minerais, insumos agrícolas e produtos químicos. Até setembro, o acumulado de importações totalizou US$ 383,87 milhões. E novamente a importância: 16,4% do total na conta dos EUA. Só perde para a China, com seus 39,3% de produtos enviados para o Ceará.
“O Estado experimenta um crescimento estável na demanda por esses itens, essenciais para sua cadeia produtiva e abastecimento energético. A forte dependência dos EUA mostra a posição estratégica do Ceará como elo regional para o comércio internacional no Nordeste brasileiro, reforçando a importância dos EUA como fornecedor de bens e insumos fundamentais”, complementa a publicação do CIN.
Política externa e valores inegociáveis

Na avaliação de Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN), mesmo com tantas incertezas e desdobramentos, a política externa traz valores inegociáveis.
“O ano de 2024 marca o bicentenário das relações entre o Brasil e os EUA. Com base na diretriz da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, a parceria bilaterial é histórica e amplamente fortalecida.
No que se refere a vitória de Donald Trump, no plano econômico, alguns eixos giram em torno do aumento das tarifas de importação entre 10% e 20% para todos os produtos que entram nos Estados Unidos. A medida tem como objetivo visível proteger os Estados Unidos principalmente dos produtos procedentes da China, cuja alíquota de importação pode chegar até 60%. Para Donald Trump, as tarifas de importação são usadas como ferramenta política.
Especialistas econômicos apontam o presidente republicano “imprevisível” na política externa em novo mandato. Mas a política externa possui temas inegociáveis em todo o mundo como o direcionamento dos recursos disponíveis para tecnologia e inovação promovendo as agendas de sustentabilidade, transição energética e equidade de gênero.
Os Estados Unidos seguem sendo o principal parceiro comercial do Ceará. Produtos siderúrgicos, calçados, peixes, frutas e a nossa tradicional cera de carnaúba são alguns dos produtos cearenses que conquistaram o mercado norte americano.
A maior economia do planeta se apresenta diante do mundo. Para o Ceará, indiscutivelmente um relevante parceiro.”
Peso do Nordeste
Regionalmente, o Ceará é o 4º maior exportador e importador do Nordeste para os Estados Unidos, respondendo por 27,1% das exportações e 8,3% das importações da região. O papel reforça a posição estratégica do Ceará, especialmente nos setores de alimentos e produtos manufaturados.
No acumulado de 2024, o Estado ocupa a 10ª posição entre os exportadores brasileiros para os EUA, correspondendo a 1,9% das exportações do Brasil para esse mercado. Apesar desse montante, houve uma redução de 21% em comparação com 2023, decorrente de atrasos nas averbações dos registros de exportação, que impactam diretamente os dados do setor de ferro e aço.
Nas importações, o Ceará ocupa a 14ª posição, totalizando em compras dos EUA, o equivalente a 1,3% das importações brasileiras do país norte-americano. O valor mostra uma queda de 24,3% em relação a 2023, devido à menor demanda por itens como combustíveis minerais e cereais, produtos historicamente relevantes na pauta de importação cearense.
American First
Como diz o subtítulo, a América vem em primeiro lugar. Assim avalia o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra.

“Interessante observar que a tendência do governo Trump é voltar àquela ideia da ‘America First’. Significa dizer que deve como no período da campanha, dar um direcionamento de uma política fiscal expansionista ou que como, com redução de impostos mais ricos e a possibilidade de subsídio do setor produtivo, pode gerar algum problema em relação à situação fiscal. Além disso, elevação dos juros e interferência também sobre o câmbio em termos gerais.
Também é interessante observar que, paralelo a isso, também deve ter um forte mecanismo de proteção, ou seja, a busca pelo protecionismo e se impactando principalmente as economias emergentes, como a brasileira e também a economia chinesa.
O mercado americano é o principal parceiro comercial internacional do Ceará. Alguns setores se destacam nesse processo, como o segmento relacionado com ferro e aço, que teve durante a gestão do Trump, uma sobretaxação, que pode voltar a acontecer para que ele gere protecionismo para o seu segmento de atividades. Além disso também temos exportações relacionadas com frutas, pescados, alimentos e também o segmento de calçados. Tais setores podem ter algum tipo de impacto caso tenha um direcionamento para um protecionismo mais significativo.
É interessante observar e já ter uma possibilidade de busca de novos mercados.”