Ridley Scott levou quase 25 anos para lançar Gladiador 2. Nesse intervalo, o cineasta britânico dirigiu alguns filmes pouco inspirados, como Robin Hood e Casa Gucci, ao mesmo tempo em que deu ao mundo obras-primas, como O Último Duelo, e ressuscitou franquias icônicas, como Alien.
Em Gladiador 2, por sorte, Scott conseguiu encontrar uma identidade completamente distinta da do primeiro, onde a seriedade, por vezes, se tornava excessivamente melodramática. Na sequência, o diretor abraça a galhofa, com personagens unidimensionais, e abandona a complexidade de uma narrativa intensa, para priorizar o simples prazer da diversão.
O longa é honesto o suficiente para se posicionar como um verdadeiro parque de diversões, onde cada cena se dedica a um momento específico de ação. Felizmente, Scott não recorre a fórmulas repetitivas e traz sequências criativas que não só enriquecem a franquia, mas refletem sua carreira como um todo.
A cena de abertura e a batalha naval no Coliseu, por exemplo, são momentos de pura maestria. Nessas sequências, o diretor amplia a imagem e oferece ao público a oportunidade de testemunhar as atitudes de cada personagem sem recorrer a cortes abruptos ou planos fechados.
É um trabalho simples, mas excepcionalmente bem executado. O visual, de fato, merece aplausos, incluindo o figurino, os cenários e a ambientação, que nos conectam com aquele universo. Em certos momentos, é possível sentir o calor da arena, como se estivéssemos ali, consequência da imersão provocada pela obra.
O que deu de errado?
No entanto, é uma pena que, ao tentar abordar temas sensíveis e políticos, o filme falhe em suas reflexões.
Há um extenso comentário sobre a fragmentação da esquerda, que acaba se devorando, se esquecendo do verdadeiro inimigo: o ditador que observa os progressistas se destruírem.
Como todo bom filme é um reflexo de seu tempo, é inegável que ver o diretor seguir por esse caminho torna tudo ainda mais interessante e envolvente.
Infelizmente, esse cuidado é efêmero demais, dado que o cineasta parece abandonar tais elementos à medida que a história se aproxima do fim. A impressão que fica é a de que Scott quis concluir a trama de forma apressada, deixando personagens e motivações em um limbo entre o desperdício e a superficialidade. Toda a discussão, inacreditavelmente, é descartada nos últimos vinte minutos em troca de uma conclusão previsível e anticlimática.
Em resumo, Gladiador 2 é uma espécie de panela de pressão repleta de boas ideias, prestes a explodir. Um entretenimento que, sim, vale a pena, mas com um desenvolvimento de personagens, roteiro e conclusão aquém das expectativas. É bom, mas podia ser melhor.
Confira a crítica no Cine Amora: