Reforma do setor elétrico eleva em até 20% o custo da energia para a indústria; impacto atinge alimentos e bebidas

COMPARTILHE A NOTÍCIA

O fato: A Medida Provisória (MP) de reforma do setor elétrico, articulada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para beneficiar até 60 milhões de brasileiros com gratuidade ou descontos na conta de luz, terá como contrapartida um impacto direto sobre os custos da indústria: a energia consumida pelo setor produtivo deverá ficar, em média, 20% mais cara.

A estimativa consta de simulações realizadas pela Abrace (associação dos grandes consumidores industriais de energia) e reforça o alerta de que a política social terá efeitos colaterais relevantes na estrutura de preços da economia. O custo da energia elétrica, que pesa significativamente na fabricação de itens da cesta básica, corresponde, por exemplo, a 27% do preço final da picanha e a 14% do valor da cerveja — produtos símbolos da campanha de Lula em 2022.

Três frentes de pressão sobre os custos industriais: A elevação do custo da energia para a indústria será determinada por três movimentos simultâneos previstos na MP.

1. Rateio das usinas nucleares

O primeiro fator é a redistribuição das despesas com o funcionamento das usinas nucleares de Angra 1 e 2. Antes, essa conta era paga apenas pelos consumidores cativos — residências e pequenos comércios. Agora, o rateio incluirá também os consumidores livres, segmento que concentra as grandes indústrias.

2. Expansão da gratuidade e esvaziamento da CDE

O segundo vetor de pressão está na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo público usado para bancar subsídios na conta de luz. Com a nova política de gratuidade para famílias de baixa renda que consomem até 80 kWh por mês, a CDE terá um acréscimo estimado em R$ 3,6 bilhões.

Além disso, a base de arrecadação do fundo encolherá, já que a MP também prevê isenção de CDE para famílias com consumo de até 120 kWh e renda per capita entre meio e um salário mínimo. Segundo a Abrace, essa medida reduzirá a base pagante em 3.400 megawatts médios, deslocando o peso financeiro para os grandes consumidores que permanecem contribuindo.

3. Fim do desconto para energia renovável

O terceiro fator é o fim do desconto de 50% na “tarifa-fio”, que remunera os serviços de transmissão e distribuição de energia, para os consumidores livres que compram energia de fontes renováveis, como parques eólicos, solares ou pequenas hidrelétricas. Até aqui, esse benefício incentivava a transição energética e a competitividade das indústrias que investem em sustentabilidade. Sem o desconto, o custo total da energia subirá ainda mais.

A conta chega à indústria e ao consumidor final: Somados, os três fatores elevam em cerca de 20% o custo da energia para a indústria, segundo a Abrace. Esse percentual, contudo, poderá variar conforme a localização da planta industrial, a estrutura de conexão com o sistema elétrico e os contratos bilaterais firmados pelas empresas.

O impacto, segundo analistas, deve se espalhar por toda a cadeia produtiva, encarecendo especialmente setores com forte dependência energética, como o de alimentos e bebidas. O cenário coloca o governo sob pressão, ao mesmo tempo em que amplia a tensão entre a política social e a competitividade industrial.

COMPARTILHE A NOTÍCIA

PUBLICIDADE

Confira Também

Guararapes, Cocó e De Lourdes têm a maior renda média de Fortaleza. Genibaú, a menor

Moraes manda Bolsonaro para prisão domiciliar após vídeo em ato com bandeiras dos EUA

Paul Krugman: Delírios de grandeza (de Trump) vão por água abaixo

Pesquisa AtlasIntel: Crise com Trump impulsiona Lula e desidrata Bolsonaro

Torcida brasileira pode ficar fora da Copa de 2026 nos EUA

Exclusivo: placas de aço produzidas no Pecém fora da lista de exceções de Trump

Reagan vs. Trump: Quando a direita acreditava no mercado, não na ameaça

Levitsky: Trump usa tarifas como arma pessoal e ameaça global à democracia

GLP-1 no Brasil: promessa de milagre, preço de privilégio

O Pix da histeria à omissão: por que a direita gritou contra o governo e calou diante dos EUA

Ciro Gomes caminha para filiação ao PSDB após almoço com cúpula tucana, em Brasília

AtlasIntel: 62% dizem que tarifa de Trump contra o Brasil é injustificada; 41% veem punição por Brics

MAIS LIDAS DO DIA

Disputa entre Ceará e Pernambuco derruba comando da Sudene e escancara guerra por trilhos e poder no Nordeste

Chegando ao destino. Por Angela Barros Leal

Petrobras lucra R$ 26,7 bilhões no 2º trimestre de 2025 e acelera investimentos no pré-sal

Sebrae fortalece economia e tradição dos municípios com o Vende Mais Mercado

Na “casa da justiça”: Desembargador agressor de ex-companheira é “punido” com aposentadoria

Saques superam depósitos na poupança em R$ 6,25 bilhões em julho, aponta Banco Central

Bolsonaro afirma que oposição já reuniu 41 assinaturas por impeachment de Alexandre de Moraes

Ceará consolida posição de destaque na indústria nordestina com segundo melhor desempenho 

Ceará terá 240 voos extras da Azul na alta temporada para impulsionar turismo e economia