Reportagem do Valor Econômico revela a perplexidade do setor financeiro do Brasil após o governo Trump abrir investigação contra o Pix, alegando práticas comerciais desleais. A medida foi vista como de cunho político e desproporcional. O texto mostra ainda que o silêncio da direita brasileira diante do ataque ao sistema que antes exaltava escancara uma incoerência. Veja pontos do texto abaixo.
O que houve:
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu mirar o Pix. A ofensiva, inesperada, partiu do USTR (Escritório de Representação Comercial dos EUA), que abriu uma investigação alegando “práticas comerciais desleais” do Brasil — incluindo o sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central.
Por que importa:
O Pix é um sucesso doméstico: gratuito, instantâneo e em expansão. Já movimenta cerca de R$ 2,5 trilhões por mês, com novas funcionalidades como o Pix Automático e o Pix Parcelado. Nos bastidores, é visto como uma ameaça direta a gigantes americanas como Visa, Mastercard e às big techs — aliadas de Trump. O ataque expõe também um constrangimento político: a direita brasileira, que sempre enalteceu o Pix, agora silencia diante da retaliação vinda do próprio Trump.
O que está em jogo
- Perplexidade no setor financeiro: Bancos, credenciadoras e fintechs foram pegos de surpresa e ainda discutem como — ou se — vão reagir.
- Alcance limitado, mas com risco: O ataque dos EUA tem pouco efeito direto sobre o Pix, mas pode atingir empresas brasileiras que usam tecnologias americanas ou operam em parceria com bandeiras internacionais.
- Prazo e audiência: A investigação está aberta para comentários públicos até 18 de agosto. Uma audiência será realizada em 3 de setembro.
- Investigado oficial: O alvo formal é o Estado brasileiro — mas executivos admitem que instituições financeiras devem ser inevitavelmente arrastadas para o centro da disputa.
O pano de fundo
- A verdadeira disputa: O Pix incomoda. Substituiu os cartões em muitas transações, barateou pagamentos e se tornou símbolo de inovação estatal.
- Interesses feridos: A Meta, por exemplo, tentou lançar pagamentos via WhatsApp no Brasil pouco antes da estreia do Pix — e foi barrada. Quando o sistema nacional entrou em operação, a liberação finalmente veio.
- Trump ligou os pontos: O presidente americano afirmou que o tarifaço e as investigações têm relação direta com a “perseguição” a Jair Bolsonaro — que será julgado pelo STF por tentativa de golpe de Estado. É, portanto, mais uma peça da disputa política internacional travestida de comércio.
Reações
- Do governo brasileiro:
Uma postagem com os dizeres: “O Pix é nosso, my friend” viralizou. A legenda ironizava:
“Parece que nosso Pix vem causando um ciúme danado lá fora, viu?” - Do setor privado:
- Diego Perez (ABFintechs): chamou a medida de “desproporcional” e sem justificativa técnica. Lembrou que as fintechs dependem das bandeiras internacionais e que não há conflito direto.
- ABBC (bancos médios e digitais): afirmou que o Pix é motor de inclusão social e eficiência.
- Abecs (cartões): acompanha os desdobramentos sem manifestação direta.
- Visa, Mastercard, Meta, Febraban e Zetta: não quiseram se manifestar.
Vá mais fundo
🔎 A investigação americana, como revelou o Valor Econômico, não cita diretamente o Pix — mas ataca práticas ligadas ao comércio digital, pagamentos eletrônicos, propriedade intelectual, desmatamento ilegal, acesso ao mercado de etanol e lei anticorrupção.
📊 Especialistas avaliam que o objetivo não é técnico, mas político: conter a expansão de uma inovação brasileira e responder à ofensiva judicial contra Bolsonaro com uma retaliação econômica disfarçada.
🤐 O silêncio de deputados bolsonaristas sobre o ataque americano ao Pix — sistema tantas vezes exaltado por eles — escancara uma contradição.