O deboche do que deveria ser uma Suprema Corte não conhece limites. A fronteira entre o poder e o delírio já foi cruzada há muito, e o que se vê hoje é uma caricatura institucional travestida de autoridade moral. O magistrado que investiga a si mesmo, decide sobre o próprio caso e, se desejar, manda prender, encarna o ponto mais alto da insanidade institucional. A Justiça, que deveria ser o alicerce da razão, tornou-se refém da vaidade e do poder absoluto.
Não se trata apenas de uma crise de imparcialidade, mas de uma demência política que devora os próprios princípios que a sustentam. Quando o juiz se confunde com o réu, quando o julgador se torna o investigado, o Estado de Direito se desfaz como papel em chamas. O senso de proporcionalidade, a ética da magistratura e o respeito às garantias constitucionais são substituídos por uma lógica de onipotência que flerta perigosamente com o autoritarismo.
O espetáculo é grotesco. A toga virou disfarce de poder pessoal, e o tribunal, que deveria ser o guardião das leis, transforma-se em palco de autopreservação. Nenhuma republiqueta de banana ousou tanto. O Brasil, outrora nação que buscava a maturidade institucional, vê-se agora mergulhado num teatro de absurdos, em que o riso nervoso se mistura ao desespero.
Ser juiz de si é rasgar o pacto civilizatório. É declarar que o poder não precisa mais de limites, que a justiça é propriedade privada e que a razão sucumbiu à soberba. Não há lucidez possível onde reina o delírio. E todos se calam.
