“O que se planta na infância florescerá no futuro — seja virtude, seja ruína.” (Sêneca)
No Ceará, o enredo é digno de uma tragédia social: um membro de facção é atraído a um motel por uma jovem mulher. Lá, a armadilha se fecha. Um vídeo expõe o desfecho brutal — o homem, encurralado no banheiro, é executado com múltiplos disparos, sem qualquer chance de defesa. Segundo policiais que atenderam à ocorrência, o cenário era de impiedade absoluta: um corpo crivado de balas no chão frio de uma suíte qualquer.
A mulher, peça central na emboscada, foi presa em flagrante e teve a prisão convertida em preventiva. Alegou que tem quatro filhos menores para cuidar e, assim, recebeu o benefício da prisão domiciliar. O argumento soa nobre: “os filhos precisam da mãe”. Mas é aqui que a pergunta incômoda surge: que mãe é essa? Que educação pode oferecer uma mulher cúmplice de um homicídio cruel? O exemplo que ela dá não é de proteção — é de adesão à barbárie.
O sistema, em sua compaixão muitas vezes equivocada, esqueceu o essencial: uma mãe de verdade estaria em casa, zelando pelos filhos — não atraindo homens para a morte. O fato de ter quatro filhos não deveria abrandar sua situação; ao contrário, deveria agravar: ela traiu os próprios filhos quando escolheu o caminho do crime.
Nos últimos anos, tem-se visto a Justiça brasileira cada vez mais inclinada a favorecer o discurso humanitário em detrimento da proteção da sociedade. Decisões assim são fruto de uma cultura jurídica que, embora bem-intencionada, frequentemente perde de vista as consequências reais para as vítimas e para o tecido social.
Ao permitir que crianças cresçam sob a tutela de uma mãe que pactuou com a morte, o Estado entrega-as ao perigo mais insidioso: a normalização do crime. O colo da mãe se torna tribunal do sangue, onde não se aprende o valor da lei — apenas a lógica da força. E quando o crime se torna lição de berço, não é só uma linhagem que está perdida: é toda uma geração que já nasce condenada.
As ruas, sempre implacáveis, já sussurram a condenação. Não há inocência que resista ao estigma de uma mãe envolvida num homicídio mercenário. Seus filhos, ainda incapazes de compreender a extensão da tragédia, já carregam nos ombros o peso de olhares que julgam, dedos que apontam. E, sob as ordens de quem transformou o lar em extensão do crime, são eles as primeiras vítimas de um destino que se adensa em sombras.
Quando a sociedade normaliza o crime e o transforma em lição de berço, crianças se perdem — e, com elas, o próprio futuro, envenenado desde a origem. Afinal, como advertiu Dostoiévski:
“O grau de civilização de uma sociedade mede-se pela forma como trata suas crianças.”
Emerge desse lar não a esperança, mas as raízes de um mal que já se alimenta da inocência.
