
O fato: O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reforçou sua estratégia de atuação em comunidades de baixa renda com o anúncio de R$ 135 milhões para novos editais do programa BNDES Periferias. A iniciativa, detalhada nesta terça-feira (22) em São Paulo, marca uma inflexão na política de fomento do banco ao colocar favelas e regiões periféricas como foco de sua agenda socioambiental e produtiva.
Nova fase do BNDES Periferias mira Norte e Nordeste: Com duas novas frentes — Periferias Fortes e Periferias Verdes —, o banco quer estruturar projetos sociais, ambientais e de empreendedorismo com potencial de impacto direto sobre os moradores das periferias, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Cada um dos dois editais do Periferias Fortes vai liberar R$ 17,5 milhões para selecionar executores locais que fortaleçam organizações da sociedade civil.
A estratégia tem como objetivo reduzir barreiras históricas de acesso ao crédito e ampliar o raio de atuação do banco em áreas antes marginalizadas por seus próprios critérios técnicos. “Todo mundo, quando olha para o BNDES, pensa na indústria. A gente agora inova, mostrando que pode chegar às periferias”, afirmou Tereza Campello, diretora Socioambiental da instituição.
Periferias Verdes leva economia circular e agricultura urbana às comunidades: A grande novidade da terceira chamada pública do programa é a criação da frente BNDES Periferias Verdes, que contará com R$ 50 milhões para projetos de recuperação ambiental com viés de inclusão produtiva. A ideia é incentivar práticas como agricultura urbana, ações de resiliência climática e soluções baseadas em economia circular. As inscrições para essa frente estão abertas até 30 de maio.
Segundo Campello, o novo braço ambiental do programa representa um movimento ousado do banco ao conectar a agenda climática com os desafios sociais dos grandes centros urbanos. “Pode-se fazer horta, mas também ações preventivas diante das mudanças climáticas”, disse.
Apoio ampliado com menos exigência de contrapartida: Outros R$ 50 milhões serão distribuídos entre os eixos Polos BNDES Periferias e Periferias Empreendedoras. A principal mudança nesta nova etapa é a redução do percentual de contrapartida exigido para entidades sem fins lucrativos, que caiu de 50% para 10%. A medida visa ampliar a participação de organizações de base que não têm acesso recorrente a recursos públicos ou privados.
No lançamento, o secretário Nacional de Periferias, Guilherme Simões, destacou que cerca de 8 milhões de brasileiros que vivem em favelas se consideram empreendedores, mas a maioria não é formalizada. “Não se trata apenas de uma reparação histórica, mas de reconhecer o papel das periferias no desenvolvimento econômico do país”, afirmou.
Demanda reprimida e espaço para o setor privado: A resposta das comunidades às duas primeiras chamadas do programa já sinaliza a demanda reprimida: 101 propostas foram inscritas, mas apenas 17 avançaram para a fase de análise. O tesoureiro da União dos Núcleos de Heliópolis (Unas), José Geraldo de Paula Pinto, considerou o programa um “pontapé inicial” e acredita que ele pode provocar o setor privado. “É preciso um projeto direto com os moradores. Se entregar os recursos para os mais pobres, eles vão saber administrar”, disse.
Com informações da Agência Brasil