O que importa
O Brasil registrou queda de 32,4% no desmatamento em 2024, mas o alerta persiste: o cerrado segue como o bioma mais devastado e a caatinga protagonizou o maior caso isolado de desmatamento do ano — uma área do tamanho de 13 mil campos de futebol foi destruída em apenas três meses no Piauí.
Vá mais fundo
• Desmatamento nacional em queda: foram 1,24 milhão de hectares perdidos em 2024, ante 1,83 milhão em 2023 — segundo ano seguido de retração.
• Cerrado lidera perdas: com 652 mil hectares desmatados, responde por mais da metade da devastação no país, ainda que tenha recuado 40% frente ao ano anterior.
• Amazônia perde força, mas ainda preocupa: 377 mil hectares suprimidos. É o segundo bioma mais afetado.
• Caatinga chama atenção: com 174 mil hectares devastados (14% do total nacional), o semiárido ficou em terceiro lugar, mas protagonizou o maior evento único de desmatamento do ano: 13.628 hectares destruídos num único imóvel rural no Piauí.
• Pantanal, mata atlântica e pampa respondem juntos por apenas 3% da devastação, mas eventos extremos no RS elevaram pontualmente a perda de vegetação nativa.
Contexto
A caatinga tem sido silenciosamente esvaziada. Apesar de ser o único bioma exclusivamente brasileiro, com rica biodiversidade e papel estratégico na recarga dos aquíferos do Nordeste, o semiárido vem sofrendo avanço crescente da agropecuária e de projetos de energia. Desde 2019, 93% dos desmatamentos associados a empreendimentos renováveis ocorreram na caatinga.
Impactos cruzados
As conexões ecológicas entre biomas fazem com que o desmatamento na Amazônia e no cerrado afete diretamente a caatinga e o Pantanal. A redução das chuvas e o prolongamento das secas no Centro-Sul do país têm relação direta com a degradação desses ecossistemas. “Sem a umidade da floresta e do cerrado, o Pantanal já começa a se transformar em caatinga”, alerta o climatologista Carlos Nobre .
O que está por trás
• A agropecuária responde por mais de 97% do desmatamento brasileiro nos últimos seis anos.
• No cerrado, grande parte da degradação ocorre dentro da legalidade: o Código Florestal exige a preservação de apenas 20% da vegetação.
• A caatinga, por sua vez, carece de proteção efetiva: tem menos de 1% do território protegido integralmente e vem sendo ocupada por monoculturas, pastagens e usinas.
Por que importa
Monitorar e frear o desmatamento não é só uma pauta ambiental — é uma questão de segurança hídrica, climática e econômica. A perda de vegetação impacta diretamente o regime de chuvas, a produção agrícola e o abastecimento urbano. E a caatinga, historicamente ignorada nas prioridades nacionais, pode ser a próxima peça a cair no dominó climático do país.
Próximo passo
O desafio vai além da Amazônia: urge proteger biomas inteiros ainda tratados como periferia da política ambiental. A caatinga não pode mais ser um ponto cego.