É desoladora a falta de autocrítica do atual governo brasileiro, cujos integrantes, em nome de um saudosismo ideológico ultrapassado, mantêm uma admiração exacerbada pela falida e extinta URSS, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Chegaram, inclusive, a inspirar a mirabolante criação da URSAL, a tal “União das Repúblicas da América do Sul” moldada nos mesmos delírios centralizadores do Leste Europeu. Como era previsível, esse projeto ruiu antes mesmo de nascer. Com o fracasso dessa União Soviética tropical, o governo brasileiro voltou seus olhos para o regime autoritário chinês, agora sob o guarda-chuva do BRICS.
O bloco, formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, deixou de ser apenas um consórcio econômico emergente para se transformar, nas mãos de líderes populistas, em um espaço de articulação contra-hegemônica com forte viés autoritário. A ideia de criar uma moeda própria para o bloco, encampada com entusiasmo pelo presidente brasileiro, condenado por corrupção e reincidente em populismo de palanque, é mais uma desastrada aventura geopolítica, uma agressão gratuita ao dólar e, por consequência, aos interesses estratégicos dos Estados Unidos.
A resposta americana não tardou. Começou silenciosa, nas entrelinhas da política tarifária, e já demonstra sinais claros de que a paciência tem limite. Ao contrário do que apregoa o delírio de grandeza tropical, o Brasil não é potência, tampouco é respeitado como tal quando insiste em se alinhar a regimes falidos e ditaduras decadentes como as da Venezuela, Cuba, Nicarágua ou Irã. A política externa do atual governo é um pastiche de fanatismos ideológicos com verniz diplomático, um retrocesso que envergonha quem ainda pensa o país com um mínimo de lucidez.
As sanções simbólicas, como a revogação de vistos de ministros do Supremo, são apenas um prenúncio. Medidas mais severas, como sobretaxas tarifárias de 50%, restrições ao espaço aéreo, pressões sobre a indústria bélica e até bloqueios estratégicos coordenados com a OTAN, não são mais hipóteses remotas. São sinais tangíveis de um Brasil que brinca com o fogo e que, por arrogância ou ignorância, não compreende que desafiar os Estados Unidos é mover peças num tabuleiro que já caminha para o xeque-mate.
Além dessas ações visíveis, os Estados Unidos dispõem de um leque mais amplo e sofisticado de respostas para reposicionar o Brasil diante da realidade internacional. O país pode ser gradualmente excluído de acordos bilaterais e multilaterais de transferência de tecnologia em áreas como inteligência artificial, segurança cibernética, defesa e aviação civil. A dependência tecnológica brasileira, especialmente em setores estratégicos, é profunda e silenciosamente monitorada.
Os EUA também podem vetar ou desestimular a entrada do Brasil em fóruns e tratados de comércio de alto padrão, como o Indo-Pacific Economic Framework ou futuros desdobramentos do USMCA. Isso implicaria manter o país à margem das cadeias de valor mais avançadas do mundo. Fundos soberanos, bancos e empresas americanas podem ser orientados a reduzir aportes no Brasil, levando a uma retração gradual do capital estrangeiro. Esse tipo de recado não precisa de manchete. Ele dói diretamente no câmbio, no crédito e no emprego.
Como principal voz no FMI, Banco Mundial e BID, os Estados Unidos ainda podem dificultar empréstimos, rebaixar classificações de risco ou travar financiamentos estratégicos sob justificativas técnicas de fragilidade institucional ou baixa governança. Sem interferir diretamente, os EUA podem reforçar laços institucionais, acadêmicos e econômicos com vozes moderadas e democráticas no Brasil, isolando politicamente as alas mais radicais do governo.
Por fim, a diplomacia de bastidores americana pode atuar para influenciar decisões no G20, OCDE, OMC e até no Conselho de Segurança da ONU, deixando claro que o Brasil, quando opta por alianças com regimes autoritários, torna-se um parceiro incômodo e imprevisível.
Ao se descolar do eixo ocidental e insistir em aventuras geopolíticas fantasiosas, o Brasil arrisca sua credibilidade, sua estabilidade econômica e sua inserção global. Os Estados Unidos, longe de serem perfeitos, sabem exatamente quem são. O Brasil, por sua vez, parece cada vez mais confuso sobre si mesmo. E em geopolítica, quem não sabe quem é acaba sendo lembrado, às vezes com firmeza, do seu real tamanho, importância e lugar no mundo.
